O MEU ELOGIO Á LOUCURA
A dor é tão grande que me sinto louca e tenho medo de começar a gargalhar inexplicavelmente para os outros, ao mesmo tempo em que me divirto ao imaginar a cena, o susto, o medo e desdém que causariam a liberdade de tal censura.
O liame entre a chamada sanidade e a loucura total é tão tênue que, passa despercebido a todos e, é assim que surgem os “doidos varridos”, os loucos desvairados, os insanos tidos como irrecuperáveis, e é tão simples! Tão triste e comezinhamente simples! Apenas o fio que, de tanto se estender e contrair, para novamente ser esticado, que não suportando mais a tensão, se parte, estoura, arrebenta deixando correr aos borbotões toda uma corrente reprimida, todo um caudal por longo tempo contido, despejando emoções em torrentes descontroladas, sem ordem quer cronológica, ou de espécie ou ainda, densidade ou importância. São as grandes e pequenas emoções havidas e não reconhecidas ou apenas, não dadas a conhecer, reprimidas que, se atropelam, se atiram em desalinho, na força arrasadora da repentina liberdade, em ânsias desarrazoadas, em volúpias de ser, de finalmente ser.
O liame da loucura total se dá, quando o outro nós, aquele nós que desde sempre conosco convive, que ve, enxerga e compreende, ás vezes até melhor que nós, o nosso eu interior e, que assiste, quase sempre divertido, o nosso ser rodopiar, se contorcer, equilibrar e, se aprumar na corda-bamba circense estendida no palco do cotidiano, se afasta, sim, esse outro aí, se afasta para um lado mais alto, se acocora no topo, no mais elevado galho da imaginária árvore em que dependurados esperneamos, bailamos qual mal-acabadas marionetes de trapo, seda, cetim ou do moderno poliéster de que formos e, quieto, onisciente, constata o que sempre soube e, como que deixa o pobre ser que somos, á mercê do seu destino, á realidade de sua dor.
É isso a loucura, é apenas e simplesmente, o deixar ser finalmente, é passar a ser, de repente, é vir a ser, tardiamente e de uma só vez.
Bendito o louco que ri, chora e balbucia desconexamente, que é finalmente, que vive no presente, toda uma vida não vivida e, não mais registra, não mais sofre, não mais
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