Oh! Dona; eu tenho direito á ¨sursi¨. Sô primário dona! Num deixa fazê isso cumigo não dona, tenho meus direito, sô primário, não vê? A Lei me garante! Tenho meus direito sim senhora. Pode vê o art...
E assim falando, o pequeno pulha, algemado e de meganha a tira-colo, cobrava e reclamava o que entendia serem seus direitos. Por eles exigia, gritava num apelo veemente e incisivo, num gingar escolado de macaco-velho, apesar da pouca idade, do pouco buço e do ar franzino.
-Tenho direito oh Dona! a Lei me garante, pode vê. Veja o código dona, sei dos meus direitos, pois não sei?!!
Continuou a rabular em defesa própria, argumentando com termos jurídicos, num pronunciar capenga e viciado, citando artigos, interpretando-os a seu favor, sempre eloqüente e inconscientemente tendencioso, informado ou formado que estava, pela escola das ruas e do xadrez.
Custou á escrevente, em paciência e firmeza, fazê-lo “carimbar o dedão” ao pé da sentença, intimando-o desta, com medida de segurança e tudo.
”- Vô falá cum o seu Juiz, ele tem que entendê”. Tá na Lei, tenho meus direito, ora... se não tenho! Não tem graça agora, EU, logo EU, o “Morcego das Piranha”, num recebê ¨súrsi¨e pegá Medida! Num tem dessa não oh moça! Tenho meus direito e vô cobrá eles na Lei e na raça. Ora, si num vô!
Algemas nos punhos, pulsos tolhidos, mas de brios erguido, foi-se o sentenciado, ladeado de meganhas, disposto a ¨recorrê¨, pois contente não estava, conhecia a Lei, sabia dos artigos, dizia-se primário, cabra bom, macho, conhecedor das leis.
Seguiu descontente, reclamando e prometendo recorrê, enquanto a escrevente, pesarosa, retornava á sua pilha de processos, todos de inocentes e bons conhecedores da Lei e dos seus direitos, advogados em potencial, formados na escola crua e nua da vida e de sua Justiça.
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