segunda-feira, 18 de julho de 2016

SAUDADES DE UM SONHO

                                                                                                                                               
                     SAUDADES DE UM SONHO
                                                 
                                                       

                Dizem os sábios e os esotéricos que devemos deixar para trás o passado.
                Não consigo! Não que no passado viva, mas vez por outra dele vivo, quando me lembro com saudade de um amor, de um momento ou história vivida ou quase vivida por ter, na bifurcação escolhido ou sido levada a escolher outro caminho.
                Aquele ou aqueles que eu ou o destino descartamos, ficaram no mundo dos sonhos e tão mais prazerosos! Justamente e talvez, por não os termos percorrido passo a passo, ficaram com gosto de saudade e com a esperança  do que teriam ou que poderiam ter sido  melhores! Idealizados!
                Vivi! Como vivi! Entretanto o que deixei de viver, vive em mim fazendo fusquinha ou embalando sonhos, preenchendo vazios.
                Alguns sonhos mais constantemente sonhados e lembrados, conjecturados, mais coloridos com as tintas da saudade, esses tem nome, alguns de vivos, outros alcançam dimensões diversas, mas continuam tão fortes, tão vívidos!
                Vívidos e prazerosos, tentadores, apaixonantes, mas não vividos ou realizados! Apenas o foram até certo ponto do caminho e depois desviados, descartados, surrupiados pela sorte ou desdita.
                Como dizer que de sonhos ou de saudade não se vive? Pode-se até não viver, mas como alimentam sonhos  e preenchem lembranças mesmo que não se viva ou se alimente apenas delas. Fazem parte de momentos do viver entre um acontecimento ou outro e aproveitam qualquer brecha para se impor agradavelmente, trazendo nostalgia e gosto de vidas não vividas, apenas pressentidas, sonhadas e perdidas, quem sabe arquivadas ou em provetas, dormentes e embrionárias.
                Lembretes ou casulos, à espera de outros tempos e oportunidades?
                Sonhos sonhados, vidas não vividas ou por viver, quem sabe? São mistérios que se insinuam e com eles convivemos, sonhando sonhos bons, acalentadores, que emprestam encantos quando nos sentimos esquecidos em um canto, ou à deriva no descampado da vida que se perde no vazio e na dinâmica da modernidade virtual!

                                                       Mariza C.C. Cezar
                                                      

                                                                                 
                                                                                     
                                                                                                                               

terça-feira, 12 de julho de 2016

A AVE E SEU NINHO...


                                                                       
                                                                   

                         A AVE E SEU NINHO
                                                    
                                                    



                       Era uma vez...
                  Não é assim que começam todas as estórias? Pois então vamos lá...
                Uma avezinha bebê, ainda filhotinha, querendo se equilibrar em suas frágeis patinhas, descobrindo que seus bracinhos tinham movimentos, mas sem saber ainda que eram asas e mágicas e que com elas poderia voar, plainar, mergulhar das alturas, dar rasantes, enfim viver, bailar pelos ares!
                Recebia em seus biquinhos sequiosos e famintos, a comida que nutria e, das asas de sua mãe o afeto, abrigo e calor.
                Essa avezinha tão frágil, vivia feliz em seu mundinho, seu ninho e porto seguro.
                Uma tarde qualquer de uma certa semana que não vem ao caso, em um mês e ano já bem distantes dos nossos dias, uma terrível ventania, verdadeira tempestade, quiçá vendaval, chegou com toda força das intempéries, com canto macabro intercalado por longos assobios, uivos arrepiantes, a tudo carregando, jogando e o que não carregava, atirava a destino incerto e lugar ignorado! Horror!
                Nossa avezinha levada pelas forças da natureza, foi finalmente deixada em sítio aprazível e encontrada por ave amiga e da mesma espécie e assim viveu ou sobreviveu.
                Levada ao ninho hospitaleiro, com o passar dos dias recebeu carinho e também pitos e admoestações, pois a mamãe passarinha adotiva,  tinha amor mas não o sabia manifestar, entretanto sabia cuidar, nutrir e educar e a nossa avezinha foi se desenvolvendo, forte, saudável e bela, educada.
                Seu canto suave era educado, bonito e contido, seus voos mais pareciam mesuras e bailados de salão, com movimentos e lonjuras delimitadas. Tornou-se  bela e comportada ave, mas não aprendera a realmente voar pelas alturas e pelas lonjuras, sabia os trinados mas como era educada, só cantava em baixo tom. Não ousava e  nem sabia que poderia ser e livre ser, cantar e voar!
                Comportada e bonita, um dia a nossa avezinha se enamorou e foi alertada que seu eleito, um belo pássaro não era da mesma estirpe e que viera de espaços e terras distantes. Ouvia ainda sobre as diferenças de ninhos, o que não lhe importou enamorada que estava, ouviu apenas a voz do seu coraçãozinho, triste ave!
                Do ninho que a acolhera foi para outro que também não  viria a ser seu, pois o passarinho amado já tinha em seu ninho uma família pré-existente, assim o ninho já tinha donos e ela se tornou a ave provedora, acolhedora, mas não podia se esparramar e nem descansar no novo ninho e nem cantar pois achavam o seu canto feio e assim, foi minguando a nossa avezinha e tanto minguou a nossa amiguinha que depois de considerável tempo resolveu deixar esse ninho com que tanto sonhara e suspirara de cortar corações! Ninho que na verdade nunca fora seu!
                Voou a ave e finalmente pousou em galho acolhedor onde pela primeira vez construiu o seu ninho, um ninho aconchegante! Nele abrigava aves sem rumo ou doentes, famintas de amor ou mesmo de minhoquinhas.
                Foi levando sua vidinha de passarinha, aprendeu a dar voos mais largos e longos, altos, a cantar sem conter a alegria, lutava pela sobrevivência contando sempre com suas asas e seu biquinho e assim, o tempo passou e as minhocas se tornaram escassas, as avezinhas pararam de buscar abrigo em seu carinho, ela foi se tornando mais velhinha, suas asas não tinham mais os mesmos movimentos, seus voos foram diminuindo, quase parou de voar.
                Um pássaro da sua ninhada primeira, daquela perdida no vendaval, quer levá-la para o ninho dele o que alegrou pelo carinho á nossa pequena ave.
                Entretanto... e sempre as estórias assim como a história, tem um entretanto e a nossa ave que pela vez primeira tem um ninho que pode chamar de seu e uma vida que sabe ser sua, tem medo como teria uma árvore velha em ser arrancada pelas raízes e transplantada para terreno estranho! Pensa, pois as aves também pensam, que seria uma ave velha e intrusa! Não teria mais o seu ninho, não seria mais livre, senhora de si!
                O que acontecerá com a nossa amiguinha?
                Penso eu agora, que isso será outra estória que poderemos contar mais tarde, restando por ora, torcermos e pedirmos ao Papai do Céu que cuide na nossa amiguinha!
                                      
                                          Mariza C.C. Cezar
                                                                                                                                  
                                                                                                                                                                     



                                                                               

sábado, 2 de julho de 2016

O DIA EM QUE A PROCISSÃO PAROU...


                                                                       
                   
                      O DIA EM QUE A PROCISSÃO PAROU...
                                                        
                                                     



                    Foi há muito tempo,e põem tempo nisso!
                  Lá pelo início da década de cinquenta, no interiorzão paulista, mais precisamente em Assis, boa cidade da Sorocabana, que ocorreu o evento inusitado.
                 Era dia santo, feriado, e o movimento mínimo no centro e a avenida principal que em todas as cidades interioranas era o cartão de visitas, estava meio deserta, portanto propícia para que a senhora motorista principiante, se aventurasse com a prole no banco de trás do possante gordo e alto como eram os volumosos carros daqueles tempos.
                Dera umas voltas pela cidade até que chegou ao local chamado de buracão, trecho final da avenida principal que toda calçada, ali se despia do asfalto e em terreno de chão batido, em plena erosão que ficava ao lado um imenso buraco, logo atrás da igreja matriz.
                Finalmente tomou a direção da avenida que se abria á frente e realizada, começou a subir a ladeira algo íngreme em certos trechos e assim seguia a  motorista com as crianças a festejar a aventura!
             Seguia o “carro fantasma” ladeira acima quando de repente  surgiu á frente  a procissão!
                 Atrapalhada e assustada a motorista novata ao invés de encostar o carro á guia, dando passagem, não querendo perturbar ao caminhar da fé que seguia pela importante avenida, com os muitos fiéis e isso, diga-se de passagem, quase a totalidade dos munícipes, levando andores e santos, bandeirolas e velas tremulantes ao compasso do passo dos caminhantes, das orações e cantos sacros, resolveu dar meia volta para desocupar a rua, entretanto o carro empacou na horizontal do leito carroçável e a procissão estancou!
               Quanto mais a senhora tentava fazer pegar o carro, mais mudo e inerte ele ficava!Empacou tal qual burro xucro.
                Cessado o caminhar, a procissão parou mas não calou as orações e nem as cantorias e tudo isso mais desesperava e mantinha em pânico a pobre motorista, até que alguém de boa vontade, não se atrevendo a se dirigir à senhora casada, como era de praxe naquela época e lonjuras interioranas, em disparada foi procurar o marido da referida senhora.
               Salva pelo marido, a pobre senhora de pequena estatura (1,58 de altura ) e que não era vista pelos transeuntes quando dirigia o carro, o que dava a ele o apelido de “carro fantasma”, ainda escutou  longo e injurioso sermão, á sua condição de mulher motorista, coisa pouco comum e não bem aceita como também não o era pelo machismo reinante.
                Hoje a história é lembrada como piada, mas imagino o terror da pobre e ousada mulher que atrapalhada, parou a procissão, passando para a história da família e quem sabe, da cidade na lembrança dos velhos moradores locais
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                                                             Mariza C.C. Cezar