Foi
há muito tempo,e põem tempo nisso!
Lá
pelo início da década de cinquenta, no interiorzão paulista, mais precisamente
em Assis, boa cidade da Sorocabana, que ocorreu o evento inusitado.
Era
dia santo, feriado, e o movimento mínimo no centro e a avenida principal que em
todas as cidades interioranas era o cartão de visitas, estava meio deserta,
portanto propícia para que a senhora motorista principiante, se aventurasse com
a prole no banco de trás do possante gordo e alto como eram os volumosos carros
daqueles tempos.
Dera
umas voltas pela cidade até que chegou ao local chamado de buracão, trecho
final da avenida principal que toda calçada, ali se despia do asfalto e em
terreno de chão batido, em plena erosão que ficava ao lado um imenso buraco,
logo atrás da igreja matriz.
Finalmente
tomou a direção da avenida que se abria á frente e realizada, começou a subir a
ladeira algo íngreme em certos trechos e assim seguia a motorista com as crianças a festejar a
aventura!
Seguia
o “carro fantasma” ladeira acima quando de repente surgiu á frente a procissão!
Atrapalhada
e assustada a motorista novata ao invés de encostar o carro á guia, dando
passagem, não querendo perturbar ao caminhar da fé que seguia pela importante
avenida, com os muitos fiéis e isso, diga-se de passagem, quase a totalidade
dos munícipes, levando andores e santos, bandeirolas e velas tremulantes ao
compasso do passo dos caminhantes, das orações e cantos sacros, resolveu dar meia
volta para desocupar a rua, entretanto o carro empacou na horizontal do leito carroçável
e a procissão estancou!
Quanto
mais a senhora tentava fazer pegar o carro, mais mudo e inerte ele ficava!Empacou tal qual burro xucro.
Cessado
o caminhar, a procissão parou mas não calou as orações e nem as cantorias e
tudo isso mais desesperava e mantinha em pânico a pobre motorista, até que alguém
de boa vontade, não se atrevendo a se dirigir à senhora casada, como era de praxe
naquela época e lonjuras interioranas, em disparada foi procurar o marido da
referida senhora.
Salva
pelo marido, a pobre senhora de pequena estatura (1,58 de altura ) e que não
era vista pelos transeuntes quando dirigia o carro, o que dava a ele o apelido
de “carro fantasma”, ainda escutou longo
e injurioso sermão, á sua condição de mulher motorista, coisa pouco comum e não
bem aceita como também não o era pelo machismo reinante.
Hoje
a história é lembrada como piada, mas imagino o terror da pobre e ousada mulher
que atrapalhada, parou a procissão, passando para a história da família e quem
sabe, da cidade na lembrança dos velhos moradores locais
.
Mariza C.C. Cezar
5 comentários:
Muito boa essa história interiorana. Imagino isso acontecendo em Descalvado. Na minha infância. Seria um sacrilégio motorizado. Gostei muito.
So quem viveu e cresceu no interiorrrrr consegue sentir a angustia da pobre motorista. Suas historias, Mariza, sao deliciosas lembrancas de nossos quotidianos, no caso, distantes, mas inesqueciveis. Adorei!
Excelente, Mariza!
Imagino (imaginamos todos) a situação da pobre coitada.
Faço o meu comentário ao som de Saudade da Minha Terra.
Abraços!
"Apesar de nao ser "interiorana" senti na carne o drama daquela senhora, uma das pioneiras motoristas da época, a quem devemos nossa admiração, por ousar aprender a dirigir e sair por aí, num mundo de mulheres acanhadas e retraídas!
Isso devido à excelente descrição do ambiente reinante naquela cidadezinha e de uma cena quotidiana bem narrada, dessas que fazem a delícia da vida e a vida da literatura! Parabéns, Mariza! "
O comentário supra foi feito por e-mail por Joana Merlin que me autorizou a posta-lo no blog em seu nome, por não ter conseguido fazê-lo de Viena onde se encontra
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