sábado, 2 de julho de 2016

O DIA EM QUE A PROCISSÃO PAROU...


                                                                       
                   
                      O DIA EM QUE A PROCISSÃO PAROU...
                                                        
                                                     



                    Foi há muito tempo,e põem tempo nisso!
                  Lá pelo início da década de cinquenta, no interiorzão paulista, mais precisamente em Assis, boa cidade da Sorocabana, que ocorreu o evento inusitado.
                 Era dia santo, feriado, e o movimento mínimo no centro e a avenida principal que em todas as cidades interioranas era o cartão de visitas, estava meio deserta, portanto propícia para que a senhora motorista principiante, se aventurasse com a prole no banco de trás do possante gordo e alto como eram os volumosos carros daqueles tempos.
                Dera umas voltas pela cidade até que chegou ao local chamado de buracão, trecho final da avenida principal que toda calçada, ali se despia do asfalto e em terreno de chão batido, em plena erosão que ficava ao lado um imenso buraco, logo atrás da igreja matriz.
                Finalmente tomou a direção da avenida que se abria á frente e realizada, começou a subir a ladeira algo íngreme em certos trechos e assim seguia a  motorista com as crianças a festejar a aventura!
             Seguia o “carro fantasma” ladeira acima quando de repente  surgiu á frente  a procissão!
                 Atrapalhada e assustada a motorista novata ao invés de encostar o carro á guia, dando passagem, não querendo perturbar ao caminhar da fé que seguia pela importante avenida, com os muitos fiéis e isso, diga-se de passagem, quase a totalidade dos munícipes, levando andores e santos, bandeirolas e velas tremulantes ao compasso do passo dos caminhantes, das orações e cantos sacros, resolveu dar meia volta para desocupar a rua, entretanto o carro empacou na horizontal do leito carroçável e a procissão estancou!
               Quanto mais a senhora tentava fazer pegar o carro, mais mudo e inerte ele ficava!Empacou tal qual burro xucro.
                Cessado o caminhar, a procissão parou mas não calou as orações e nem as cantorias e tudo isso mais desesperava e mantinha em pânico a pobre motorista, até que alguém de boa vontade, não se atrevendo a se dirigir à senhora casada, como era de praxe naquela época e lonjuras interioranas, em disparada foi procurar o marido da referida senhora.
               Salva pelo marido, a pobre senhora de pequena estatura (1,58 de altura ) e que não era vista pelos transeuntes quando dirigia o carro, o que dava a ele o apelido de “carro fantasma”, ainda escutou  longo e injurioso sermão, á sua condição de mulher motorista, coisa pouco comum e não bem aceita como também não o era pelo machismo reinante.
                Hoje a história é lembrada como piada, mas imagino o terror da pobre e ousada mulher que atrapalhada, parou a procissão, passando para a história da família e quem sabe, da cidade na lembrança dos velhos moradores locais
.

                                                             Mariza C.C. Cezar
                                                                                                                                                     

                                                                                                                                                           
               

5 comentários:

Flávio Tallarico disse...

Muito boa essa história interiorana. Imagino isso acontecendo em Descalvado. Na minha infância. Seria um sacrilégio motorizado. Gostei muito.

Ercy Longo disse...

So quem viveu e cresceu no interiorrrrr consegue sentir a angustia da pobre motorista. Suas historias, Mariza, sao deliciosas lembrancas de nossos quotidianos, no caso, distantes, mas inesqueciveis. Adorei!

Carlos Gama disse...

Excelente, Mariza!
Imagino (imaginamos todos) a situação da pobre coitada.
Faço o meu comentário ao som de Saudade da Minha Terra.
Abraços!

Mariza C C. Cezar disse...


"Apesar de nao ser "interiorana" senti na carne o drama daquela senhora, uma das pioneiras motoristas da época, a quem devemos nossa admiração, por ousar aprender a dirigir e sair por aí, num mundo de mulheres acanhadas e retraídas!
Isso devido à excelente descrição do ambiente reinante naquela cidadezinha e de uma cena quotidiana bem narrada, dessas que fazem a delícia da vida e a vida da literatura! Parabéns, Mariza! "

Mariza C C. Cezar disse...

O comentário supra foi feito por e-mail por Joana Merlin que me autorizou a posta-lo no blog em seu nome, por não ter conseguido fazê-lo de Viena onde se encontra