Se a história registra a origem desses festejos como joaninos, se reportando aos festejos tão ao gosto de Don João VI, os usos e costumes da tradição popular consagrou-os como juninos, por se darem durante o mês de junho, mês do frio, tão propício ás fogueiras, aos quentões e outros quitutes típicos das zonas rurais e, aos frutos sazonais como os pinhões, por exemplo.
Em junho se comemora, primeiro no dia 13 a festa do santo casamenteiro, Santo Antônio, e deve ser por essa razão que surgiram os correios elegantes, a barraca de beijos, as maçãs do amor, a quadrilha animada com cantorias e comandos em francês com pitoresca pronuncia em “caboclês”, quadrilha que na realidade é o séquito do casal de noivos animados e caricatos, acompanhados do padre, do Dr. Delegado com seu trabuco e, do pai da noiva.
Deve-se aos festejos de Santo Antônio, os múltiplos sortilégios e sortes lidas nessa noite, para se saber quem será o eleito, o príncipe que virá arrebatar as moiçolas casadouras e salvar aquelas que temem ficar para “titias”.
Quantos sonhos e suspiros acompanham promessas, novenas e outras práticas não ortodoxas ou cristãs! Quantos meninos Jesus roubados nessa noite, do colo das imagens de Santo Antônio, com a promessa de devolvê-los tão logo o Santo realize seus sonhados milagres de amor!
A essas festas também se incorporam os bolos de fubá com uma aliança ou anel “perdido” no meio da massa, para eleger a próxima a se casar.
Outros quitutes típicos como os milhos verdes e as pamonhas assadas, como as batatas doces colhidas das brasas, os doces feitos com cal, como os de abóbora madura, de batata-roxa ou branca, as cocadas de fita ou de coco ralado, os docinhos de cidra, os pé-de-moleques, rapaduras, paçocas e, os frangos assados recheados com farta e saborosa farofa, são comuns a essas festas e se apresentam também nas dedicadas aos outros santos.
Dia 24 de junho é dedicado a São João, e essa costuma ser a noite mais fria do ano e geralmente, é em honra dele que se erguem os mastros com a bandeirola desse santo ali homenageado.
Em minha sala tenho um óleo sobre tela que mostra uma pequena e despretensiosa casa de sítio, com uma porta e uma janela, pintadas em azulão, contrastando com as paredes caiadas e, nessa porta e janela da fachada da referida casa, estão afixados pequenos vasos de plantas com flores, algumas moitas e plantas ao redor dessa casa, algumas árvores ao fundo, um varal esperneando ao vento e, em primeiro plano, um mastro de São João ali fincado, pelo que me reporta a memória, pelo meu pai, em comemoração a esses festejos tão típicos e tradicionais da nossa cultura.
São Pedro, o pescador, encerra tais festividades em 29 de junho e, como todas as outras, sempre ao som de uma sanfona, acordeão e, de uma viola amiga.
Nesses dias a música e as danças correm soltas noite a dentro e, a todas confraternizam os senhores, empregados, colonos e vizinhos.
Nos centros urbanos comemoram-se esses festejos, nos quintais, nos pátios das igrejas, nas praias, nos clubes sociais, nas escolas e, no litoral, em São Pedro, os pescadores lançam os barcos ao mar em procissão e, fazem oferendas ao santo, a quem entregam pedidos e promessas.
Fui a muitas dessas festas, na roça, nos quintais de casa, em algumas igrejas, na praia, e na minha adolescência e mocidade, a muitos bailes de clubes em que me apresentava brejeiramente de caipirinha catita e festeira, mas nunca fiz tanto sucesso como quando, com todo capricho e vaidade arrumada, arrematei a caracterização, envolvendo um dos grandes dentes dianteiro e superior, em papel preto, recortado que fora do envoltório de agulhas de costura da minha tia e, quando alguém se aproximava para o convite á dança, eu abria um largo sorriso banguela.
Não sei por que, quando dessas lembranças, me vêm á cabeça o sanfoneiro Luiz Gonzaga e também, Inezita Barroso, cantando “ no dia do meu casório foi um festão danado” e...” a marvada da pinga é que me atrapaia”...
Rojões, foguetes, busca-pés, bombinhas, estrelinhas, traques de salão ou de velhas, fósforos de cor grandes ou pequenos, chuvas de ouro ou de prata e um céu estrelado como pano de fundo, rematam essas memórias festivas e regionais de uma tradição caipira e brasileira.
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