sábado, 20 de agosto de 2011

ANTOLOGIA POÉTICA

                               A N T O L O G I A     P O É T I C A
              Capricho para mim, sempre se me afigurou como carrapicho, em termos de sonância e em termos de sentido, carrapicho desses incômodos que grudam e nos fazem perder um tempo enorme e, em cadência monótona e freneticamente repetitiva a puxar, tirar, arrancar, limpar e, por incrível que pareça, esse carrapicho se agarrou, já de longa data em mim e, como me é peculiar, sempre ás avessas, o meu carrapicho é o da falta de capricho.
            Não sei, não gosto e não tenho paciência necessária para desmanchar, refazer ou burilar o que faço. Faço e pronto, está feito, está bom, ótimo!
           Acredito na espontaneidade, valorizo o natural, aquilo que brota do espírito, que sai das mãos sabendo a artesanato, com cheiro humano, num misto de centelha divina com gosto de pecado, a mescla da criatividade com o erro, o sopro da vida no barro chão e artesanal e, se eu sou assim, se assim fui feita, se advim de Deus e da matéria prima barrenta, lodosa, por certo com uma leve pitada demoníaca, o tempero do pecado original, por que é que aquilo que faço deverá me sobrepujar? Por que deverei buscar teimosa e acirradamente a perfeição nas obras de minhas mãos e espírito?
          Aquilo que fazemos ou construímos, se for muito trabalhado, revisto, burilado, perde  eu acredito, a beleza da arte que é obra do espírito. O que é refeito, consertado, poderá agradar aos mais exigentes perfeccionistas, poderá ser admirado, elogiado pelo povo e pelos críticos, ganhar prêmios, aplausos, dividendos, estourar o mercado capitalista, arrancar ahs!  e ohs! Admirativos, despertar invejas e cobiças, mas aquilo que fica na pujança, na força bela da explosão da alma, terá hoje, agora e amanhã, num amanhã distante, a graça, a singeleza, a beleza que tocará sensibilidades irmãs que sabem e saberão apreciar o único e personalíssimo grito da alma, em prosa ou verso, em canto ou pranto de acordes sonoros, em stacatto ou piano, para violinos, pianos, banjos ou violões, em rendas ou crivos, esculturas, talhas, em uma simples encadernação ou artefatos de uso doméstico ou de enfeites de cristal, metal nobre ou pobre, madeira, porcelanas e cerâmicas, seja o que for que saia das mãos ou da alma, desde que leve alma, que tenha espírito, acredito que deverá manter a marca da criação, transmitir as características genéticas do momento único em que veio da vida para a perpetuidade de vida, em comunhão ao longo dos tempos, com outras vidas, com outras sensibilidades, despertando, quem sabe, vida em vidas dormentes?!

2 comentários:

marcus disse...

Adorei, parabéns. Que outros possam tb se deliciar.
Um forte abraço.
Marcus

Flávio Tallarico disse...

Cara amiga: já havia lido esse seu maravilhoso texto no Facebook, e deixei lá minhas considerações sobre suas cronicas. Mais uma vez fiquei alegre visitando o seu blog e deixando aqui meu carinho para com sua pessoa. Um grande abraço.