Como desassociar a alegria da fantasia? Só enveredando pelos corredores da psicologia
ou da psiquiatria, ou percorrendo os meandros da culpa, ou das conseqüências da fuga das
responsabilidades, tão ao sabor de certas correntes filosófico-religiosas que remontam ás origens
judaico-cristãs ou ainda, retornando aos costumes patriarcais de uma história voltada ao peso das
obrigações e interesses econômico e produtivos.
Vemos então, que a alegria advinda da fantasia pode ser sacrílega, pecaminosa ou mesmo criminosa, por nos roubar dos interesses eclesiásticos ou econômico-financeiros, mas voltemos á fantasia, seja ela sinônimo de sonhos, fugas da realidade, conjecturas sobre um
futuro idealizado, projetos utópicos ou ideais, mesmo que sem alicerces, ou apoiados em meras quimeras do irreal ou da magia.
Saiamos do campo dos sonhos e entremos nas materializações de algumas fantasias e o que ocorre, quase que imperceptivelmente quando assumimos certas personas, mesmo que no burburinho do cotidiano, como pode ainda acontecer, no momento em que criamos, no mundo das idéias e nos colocamos em campo para confeccionar em sedas, cetins, lamês, estopa, algodões de padrões os mais variados, mesmo os crus, com o auxílio de plumas e paetês, lantejoulas, espelhos e miçangas, cuidando dos mínimos detalhes que enriquecerão e tornarão realizável, ou realidade a fantasia que envergaremos e com a qual assumiremos o papel que nos dispomos viver por e, em fantasia.
Que delícia! Vestir uma fantasia e assumir o papel, a personagem que nos dispusermos a ser, mesmo que por momentos fugazes de um baile temático, de uma apresentação teatral ou de opereta, ou ainda por entre confetes e serpentinas, as fantasias carnavalescas.
Quantas fantasias eu vivi! Quantas fantasias idealizei, compus cuidando dos mínimos detalhes para uma caracterização convincente e real, quantas fantasias me levaram, me ajudaram a compor uma personagem que fantasiei e encarnei, assumi com alegria intensa e imensa!
A primeira fantasia de que me lembro, foi de ¨Princesa das Tzardas¨lá pelos três anos de idade, essa me foi presenteada pelos mais velhos, mas ao longo da meninice seguiram-se outras e, da adolescência em diante, entrei ativamente no jogo de fantasiar, concretizar, incorporar e viver fantasias.
Ainda em menina, fui um jovem turco, essa de tantas, a única que não me deu plena alegria, pois o que eu fantasiara era com uma linda odalisca e, em razão das censuras maternas, fiquei com o mais próximo que tais preconceitos permitiram, mas empanada essa alegria, segui realizando outras e, fui por umas três ou quatro vezes, diferentes ciganas, havaianas, de saia de corda desfiada ou de sarongs então, foram algumas, bailarina de frech can-can, fantasma de ópera, pierrot e, em bailes temáticos, aqueles em que o traje pedido era a rigor ou fantasia, dentro d e um tema pré-estabelecido.
Para esses bailes temáticos, criei e vivi tantas fantasias com as quais ganhei vários primeiros prêmios! Fui mexicana, baiana, hippie, apachinete e, sem o referido prêmio fantasiei ainda, no mundo das fantasias, como cinderela acompanhada e escoltada por um perfeito espantalho detentor do primeiro lugar masculino na premiação da noite.
Tentas foram as fantasias e tantas as alegrias!
E a fantasia de no dia a dia, assumir determinada persona, fazendo o gênero clássico ou esportivo, sexy,sedutor, intelectual, professoral, doutoral, estudantil, ingênuo, menina-moça, dona de casa, sociality, boa menina, tantas as personagens criadas, fantasiadas a partir de um conselho de velha tia materna que me disse um dia:- ¨minha filha, você não precisa se arrumar tanto! O homem gosta de novidade e além do mais, a verdadeira elegância consiste em saber se apresentar em todos os momentos como a situação exige, um dia de sandalhinha baixa, outro de salto Luiz XV¨.
Que conselho sábio! Deu asas ás minhas fantasias e proporcionou tantas alegrias!