domingo, 31 de agosto de 2014

CHEIROS E ...CHEIROS

                                                                                                                                               
                       
                      CHEIROS E...CHEIROS
                                                                                                           

        Hoje é domingo “pé de cachimbo” e um lindo e alegre domingo ensolarado que risonhamente
se prepara para dar as boas vindas a setembro que chegará festivamente amanhã, com o início de mais uma semana do Calendário Gregoriano!
        A vida lá fora em festa! Aqui na intimidade do meu lar, eu e minhas reminiscências...
        Talvez o “cheiro” de vida trazido pela voz de uma vizinha que, da rua chamava o filho caçula cobrando algum documento do pai, tudo levando a crer que estavam de partida, muito provavelmente para a praia e o lindo marzão que banha a nossa orla, tenha me reportado a outros cheiros de momentos passados.
        Desde que me lembro por gente, tenho um famoso nariz de cheira-cheira.
        Cheiros bons, apetitosos, gulosos, cheiros sensuais despertando outros apetites, feromônios e também cheiros de perfumes deliciosos, outros provocando náuseas e intolerâncias ao despertar lembranças de episódios ou pessoas descartadas do convívio cotidiano.
        Ai esse meu narizinho que já foi arrebitado e atrevido, como me fez passear por mundos e cenas imaginárias e como também me trouxe à realidade chã, crua e nua da vida!
        Esse esmiuçador de cheiros e odores já me colocou em frias e também me fez engordar quilos e quilos indesejáveis!
        No tempo de normalista, vizinha ao prédio da Escola, havia uma pensão que ascendia e fazia arfar minhas narinas e despertando  as papilas gustativas, desviando a atenção das aulas quer de didática, psicologia ou pedagogia, para o tempero do feijão, do arroz ou do bife que estavam sendo preparados e me faziam salivar em hipnose quase total!
        Esse o meu nariz! E quantas peças me pregou!
        Mas a moral destas considerações é bem mais séria e impactante, desconcertante mesmo!
        Nem só de memórias boas e agradáveis vive a memória de um nariz xereta de cheira-cheira!
        Confesso algo constrangida que um dos cheiros de que sempre fugi foi o cheiro dos velhos ou deveria dizer d@s velh@s?
        Detalhes das evoluções e modismos sócio políticas e linguísticas que não vem ao caso, não dá ênfase a essa forma de dizer ou expressar, pois a meu ver e para o meu emocional, muito mais sério é o cheiro mencionado pois ele me repugnava e agredia e agredia muito mais a minha intolerância condenada pela censura autoimposta  e oriunda de princípios religiosos e bases da educação familiar.
        O caso triste minha gente é que certa tarde de sábado, lá pelos idos dos fins do ano de l988, chegando ao apartamento da minha mãe, como sempre fazia, para jogarmos “Mexe-Mexe” um jogo de tabuleiro e pedras formando palavras cruzadas, abraçando-a exclamei: - Mamãe, você sempre foi uma velhinha (69 anos) cheirosa e hoje está cheirando a velha!”.
        Não vamos considerar a idade dela que, na ocasião era muito mais nova do que sou hoje e muito menos a indelicadeza da minha observação, mesmo porque encontraríamos algumas atenuantes possivelmente entendidas por uns e por outros não. O caso é que o cheiro exalava e agredia minhas  sensíveis narinas, mas foi deixado tudo para lá em nome do amor e do jogo que tanto a deliciava!
        Jogávamos mesmo estando ela cega em razão de um A.V.C. que lhe atingira os nervos óticos, mas não a memória e nem a lucidez, assim jogávamos com ela memorizando  o tabuleiro e suas peças!
        O caso triste meus amigos, é que uns três dias  depois desse nosso último jogo, ela veio a falecer.
        Com o decorrer do tempo e remoendo minha indelicadeza, cheguei à conclusão de que o cheiro que sentira em minha mãe, tinha sido o cheiro da morte! Minha sensibilidade olfativa captara o processo de degeneração molecular, a morte dos neurônios por certo.
        Bem mais tarde voltei a sentir esse mesmo cheiro e para pânico meu, o senti em mim logo ao acordar, o que me manteve alerta e com todos os sentidos de sobreaviso e bastante apreensiva, com medo mesmo e muito, melhor diria com uma danada “paura”!
        Isso aconteceu há quase cinco anos e foi dias antes  que se manifestasse minha primeira e violenta crise da artrite reumatoide que tanto tem limitado e judiado do meu viver!
        Meu narizinho fotogênico e atrevido hoje já não é mais elegantemente arrebitado mas, continua  sensível e cheirando os ares de cá e quem sabe aos de lá?

                                Mariza C. de C. Cezar
                                                                                                      

                                                                                                                                                               
                                                                           

Um comentário:

Anônimo disse...

mazinha, a linguagem inclusiva, ou o @ no lugar do o, é sim, como você disse, uma evolução linguística, mas não um modismo... quem dera virasse moda! mas as pessoas tendem a ser resistentes com o novo. E por falar em resistência, esse seu nariz é digno de ser estudado pela ciência, pois que ele cheira além!

Esses dias veio aqui em casa uma amiga, e quando eu estava abrindo o portão ela me perguntou se tinha uma figueira aqui... fiquei embasbacada e perguntei como ela sabia, e ela disse: senti o cheiro. (!)

fico impressionada com esses narizinhos potentes, que penso eu, ser na verdade, manifestação física de grande sensibilidade ;)

te amo!

miu