UM PIERRÔ APAIXONADO
Tão linda e sedutora, sem a
mínima consciência dos olhares cobiçosos que a seguiam, brincava alegre e
despreocupada ao som de velhas marchas.
Sorria e rodopiava dançando
alegremente sob chuva de coloridos confetes, em sua fantasia de cigana e,
criança que ainda era, o que roubava eram corações e desejos despertados,
aguçados justamente pelos encantos seus de brejeira menina mulher!
Perdido de amor, entrei no salão
seguindo os rastros seus e arrebatando um pandeiro de mãos incautas, caí no sassarico tentando me fazer notar!
Triste de mim! Dancei,
saltitei, rodopiei alguns passos de efeito sem levar qualquer jeito para
aqueles folguedos!
Pouco importava! O que não
podia era me afastar, perdê-la de vista, não tentar e me entregar ao desânimo,
à pequenez do nada fazer, não ousar!
Sobrepujei à habitual
timidez, levado, motivado por razões que empurravam, animavam, incentivavam!
Rodopiei a noite toda
qual mariposa buscando a luz e, era a luz dos olhos seus que buscava, assim
como o brilho do seu sorriso que eu tentava ganhar e assim, tentei e tentei até
o baile acabar.
Vi quando se afastou junto
a um grupo grande e alegre entrando em carros e estes em corso, seguiam entregando baianas, havaianas, colombinas, piratas e
alguns malandros pelo caminho.
Sem alegre fantasia, me quedei a
um canto a suspirar apaixonado, a assumir desolado, a envergadura de palhaço
que canta, samba e sorri estando, por dentro alquebrado, sem saber a que se
ater.
Noite mal dormida,
entrecortada aqui e ali por sonhos e pesadelos.
Com o raiar do dia, um fio
de luz encheu meu coração de redobrada esperança, elevando-me os brios e
renovando a ousadia.
Comprei uma fantasia de pierrô apaixonado.
Expectativas, projetos, esperanças,
levaram-me ao meio do salão.
Encontrei minha musa,
minha deusa, a cigana dos meus azares e dos meus amores!
Marchamos, sambamos,
rodopiamos, saltitamos as várias cadências, ela curtindo os três dias de
“porteira aberta” a alforria da alegria e eu, me deixando embebedar pelos
requebros seus!
Em dado momento ousei e,
lhe entreguei junto com meu amor, uma flor que levara justamente para lhe
ofertar!
Seus dedos tocaram por
brevíssimos momentos nos meus, que se enregelaram, congelando todo o meu ser.
Estanquei petrificado
pela emoção e ela, guardando ao peito o meu coração em flor, seguiu bailando,
brincando inconsequente à minha dor, ao meu torpor!
Mariza C. de C. Cezar
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