sábado, 17 de maio de 2014

O AMANHECER DE MIGUEL - SUB TÍTULO: "CANELA EM PÓ"


                                      Boa noite amigos! 
                                      Hoje trago a vocês um texto de minha sobrinha Gisele Cezar Martins, bem diferente das minhas postagens habituais, e que a mim agrada bastante, talvez por essa  mesma razão, pois foge ao lugar comum.
                                      Espero que agrade a vocês como agrada a mim.
                                      Um grande abraço a todos e uma ótima semana também.


                                              Mariza C.de C. Cezar
                   
                                                                                                           


                                            O AMANHECER DE MIGUEL
                                                 CANELA EM PÓ
                                                                                                                               
                                                              



         Miguel Comum como o próprio nome já diz, era um homem comum, tão comum que no meio do povo, no meio da rua, era difícil distingui-lo dos demais.
         Seus cabelos podiam ser pretos ou castanhos, longos ou curtos, tanto faz se lisos ou cacheados, nada absolutamente nada o diferenciava de si mesmo.
         Todos os dias de todos os anos de sua vida, ele brigava com o relógio que o acordava aos gritos, se é que relógio poderia gritar, mais precisamente às cinco e quinze da manhã, seus olhos se abriam sem nada enxergar, suas mãos mecânicas calavam o despertador como quem estrangula a noite que chegou ao fim e, sem vontade de continuar, se levantada da cama de molas estouradas que, de tão velha e amiga, já tinha tomado a forma do seu corpo que poderia ser magro ou gordo, grande ou pequeno, ágil ou moroso, tanto faz, as molas de qualquer jeito iriam saltar.
         Miguel Comum não sofria de insônia, não sorria de felicidade, não era feio, tampouco bonito, não tinha grandes amigos mas também não era solitário, não chegava atrasado e nem corria adiantado; pegava o mesmo trem, o mesmo metrô, a mesma escola, a mesma mulher, pegava os mesmos sapatos e os calçava como quem não poderia pisar num mundo diferente do que sempre pisara.
         Pegava seu direito de escolha, que ele não sabia que tinha, e guardava no bolso como quem guarda o último tostão para uma “birita”, no mesmo bar da mesma esquina antes de ir trabalhar.
         Miguel Comum era assim, um homem qualquer, digo era porque naquela manhã de qualquer dia, em qualquer mês em que nem se sabe o ano, suas mãos estrangularam o relógio precisamente às 5:15 hs.. Seus olhos se abriram como quem não quer acordar, e sem muito se espreguiçar Miguel Comum levantou seu corpo que não era leve e nem pesado, da cama de molas rangentes e, sem precisar pensar muito foi direto à cozinha ferver água para o café.
         A mesma xícara, a mesma mesa, o mesmo tempo de fervura, a mesma brandura estampada no rosto, o mesmo pó amargo, a mesma cadeira rachada que o fazia se equilibrar de um lado para o outro, o mesmo Miguel Comum exceto por um detalhe em que ele nunca havia reparado, ou quem sabe houvesse, mas não como naquela manhã de qualquer dia, em qualquer mês de que nem se sabe o ano.
         Bem à sua frente, pousado na mesa, o cesto de palha que escondia o pão do desjejum e que engolia os segredos ali enfiados e que apimentava os temperos esquecidos, nesse cesto que Miguel olhou e viu!
         Pela primeira vez seus olhos se abriram e ele enxergou perdido em um canto, amontoado entre as sobras para o dia seguinte, um saquinho rasgado que ia se esvaziando aos poucos pelo cesto, um saquinho igual, um saquinho qualquer, também comum, de canela em pó.
         Na mente comum do saquinho igual ao Miguel sem par, a canela em pó se transformou em uma bela cinderela instantânea, estourada como pipoca no micro-ondas da casa da vizinha ao lado.
         Miguel Comum então criou uma estória encantada, de um homem qualquer que corria da vida agitada de pronta entrega no fast-food da sua barriga vazia que comia enlatado de televisão a cabo que não existia no espaço oco de seu coração, o bate-papo globalizado pela internet do conto de fadas ultrapassado, de uma geração de papa-léguas modernos.
         No micro-ondas ao lado, na casa vizinha, estourada como pipoca num saquinho instantâneo, a cinderela encantada crescia no sonho do nosso já não tão comum Miguel qualquer e ele continuava a criar não mais uma estória, mas um conto que o despertava e o fazia se lembrar do sei direito de escolha que guardara no bolso e assim, ele descobriu que poderia ousar!
         Naquele dia Miguel Comum não foi trabalhar, também não foi passear, o mundo não sabe o que foi feito dele, pois jamais o conheceu e mesmo que o conhecesse, não faria diferença, pois tanto faz se ele era alto ou baixo, magro ou gordo, qualquer um ou como o próprio nome já diz, um comum que resolveu não ir trabalhar.
         E o nosso Miguel?
         Continuou comum, sentado à mesa, na cadeira rachada, olhando o saquinho rasgado, do sonho que escorria do canto direito do seu lábio, da canela em pó que esfriava na xícara de café sobre a mesa, criando em sua mente, o conto de fadas que o fazia diferente.

                                                                       Gisele Cezar Martins
                                                                                                                                                                                            


2 comentários:

Anônimo disse...

Interessante!!!1
Cida Micossi

Gisele Cezar disse...

Até que eu escrevo bem né, rsrsrs. Pequena correção, no final ficou faltando dos demais. Que o fazia diferente dos demais. Obrigada pelo prestigio de poder estarem seu blog minha tia. Te amo.