Boa noite amigos!
Hoje trago a vocês um texto de minha sobrinha Gisele Cezar Martins, bem diferente das minhas postagens habituais, e que a mim agrada bastante, talvez por essa mesma razão, pois foge ao lugar comum.
Espero que agrade a vocês como agrada a mim.
Um grande abraço a todos e uma ótima semana também.
Mariza C.de C. Cezar
O AMANHECER DE MIGUEL
CANELA EM PÓ
Miguel Comum como o próprio nome já diz, era um homem comum,
tão comum que no meio do povo, no meio da rua, era difícil distingui-lo dos
demais.
Seus cabelos podiam ser pretos ou castanhos, longos ou
curtos, tanto faz se lisos ou cacheados, nada absolutamente nada o diferenciava
de si mesmo.
Todos os dias de todos os anos de sua vida, ele brigava com
o relógio que o acordava aos gritos, se é que relógio poderia gritar, mais
precisamente às cinco e quinze da manhã, seus olhos se abriam sem nada enxergar,
suas mãos mecânicas calavam o despertador como quem estrangula a noite que
chegou ao fim e, sem vontade de continuar, se levantada da cama de molas
estouradas que, de tão velha e amiga, já tinha tomado a forma do seu corpo que
poderia ser magro ou gordo, grande ou pequeno, ágil ou moroso, tanto faz, as
molas de qualquer jeito iriam saltar.
Miguel Comum não sofria de insônia, não sorria de
felicidade, não era feio, tampouco bonito, não tinha grandes amigos mas também
não era solitário, não chegava atrasado e nem corria adiantado; pegava o mesmo
trem, o mesmo metrô, a mesma escola, a mesma mulher, pegava os mesmos sapatos e
os calçava como quem não poderia pisar num mundo diferente do que sempre
pisara.
Pegava seu direito de escolha, que ele não sabia que tinha,
e guardava no bolso como quem guarda o último tostão para uma “birita”, no
mesmo bar da mesma esquina antes de ir trabalhar.
Miguel Comum era assim, um homem qualquer, digo era porque
naquela manhã de qualquer dia, em qualquer mês em que nem se sabe o ano, suas
mãos estrangularam o relógio precisamente às 5:15 hs.. Seus olhos se abriram como
quem não quer acordar, e sem muito se espreguiçar Miguel Comum levantou seu
corpo que não era leve e nem pesado, da cama de molas rangentes e, sem precisar
pensar muito foi direto à cozinha ferver água para o café.
A mesma xícara, a mesma mesa, o mesmo tempo de fervura, a
mesma brandura estampada no rosto, o mesmo pó amargo, a mesma cadeira rachada
que o fazia se equilibrar de um lado para o outro, o mesmo Miguel Comum exceto
por um detalhe em que ele nunca havia reparado, ou quem sabe houvesse, mas não
como naquela manhã de qualquer dia, em qualquer mês de que nem se sabe o ano.
Bem à sua frente, pousado na mesa, o cesto de palha que
escondia o pão do desjejum e que engolia os segredos ali enfiados e que
apimentava os temperos esquecidos, nesse cesto que Miguel olhou e viu!
Pela primeira vez seus olhos se abriram e ele enxergou
perdido em um canto, amontoado entre as sobras para o dia seguinte, um saquinho
rasgado que ia se esvaziando aos poucos pelo cesto, um saquinho igual, um
saquinho qualquer, também comum, de canela em pó.
Na mente comum do saquinho igual ao Miguel sem par, a canela
em pó se transformou em uma bela cinderela instantânea, estourada como pipoca
no micro-ondas da casa da vizinha ao lado.
Miguel Comum então criou uma estória encantada, de um homem
qualquer que corria da vida agitada de pronta entrega no fast-food da sua
barriga vazia que comia enlatado de televisão a cabo que não existia no espaço
oco de seu coração, o bate-papo globalizado pela internet do conto de fadas
ultrapassado, de uma geração de papa-léguas modernos.
No micro-ondas ao lado, na casa vizinha, estourada como
pipoca num saquinho instantâneo, a cinderela encantada crescia no sonho do
nosso já não tão comum Miguel qualquer e ele continuava a criar não mais uma
estória, mas um conto que o despertava e o fazia se lembrar do sei direito de
escolha que guardara no bolso e assim, ele descobriu que poderia ousar!
Naquele dia Miguel Comum não foi trabalhar, também não foi passear,
o mundo não sabe o que foi feito dele, pois jamais o conheceu e mesmo que o
conhecesse, não faria diferença, pois tanto faz se ele era alto ou baixo, magro
ou gordo, qualquer um ou como o próprio nome já diz, um comum que resolveu não
ir trabalhar.
E o nosso Miguel?
Continuou comum, sentado à mesa, na cadeira rachada, olhando
o saquinho rasgado, do sonho que escorria do canto direito do seu lábio, da
canela em pó que esfriava na xícara de café sobre a mesa, criando em sua mente,
o conto de fadas que o fazia diferente.
Gisele Cezar Martins
2 comentários:
Interessante!!!1
Cida Micossi
Até que eu escrevo bem né, rsrsrs. Pequena correção, no final ficou faltando dos demais. Que o fazia diferente dos demais. Obrigada pelo prestigio de poder estarem seu blog minha tia. Te amo.
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