sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ASSOMBRO !





          
                                                                                                                 

                

                     ASSOMBRO ! 

                Estou desbotando!

                De tez naturalmente alva com um leve toque rosado, o que fazia com que, na inconsequente adolescência e mocidade, me expusesse ao sol escaldante, com a ajuda de bronzeadores, muitas vezes pela irresponsável e rebelde criatividade, batizados, envenenados ou mesmo “fabricados” por mim , com “armas” então secretas

             Essa ousada “química” produzida toda no “olhometro” guiado pelos caprichos do momento, tinha por base o famoso óleo Johnson’s, outro tanto de azeite de dendê, algo de iodo e um toque caprichado de urucum, tudo em busca  de um ar saudável e atraente, contrastante com o claro dos risonhos ou sonhadores olhos azuis.

           Os cabelos longos e soltos, ou presos em articulados penteados, ou atrevidas “maria chiquinhas”, eram lindos e fartos com movimentos próprios e, castanhos escuros, quase negros, provocando um contraste que muito me envaidecia.         

         Bom, a verdade é que sem pejo de admitir, sei que realmente fui muito bonita.

         Verdade que se fui vaidosa, nunca fui fútil ou procurei me prevalecer disso, pelo contrário!

         Apreciava a beleza sim, mas também apreciava e respeitava a inteligência e procurava cultivá-la com leituras e conhecimentos os mais variados, dando imenso valor á cultura, tanto da mente quanto á do espírito.

         Mas, fiquemos no terreno do físico, por ser o objeto destas considerações, mas sem me  ater ás formas e nem se era gorda ou magra principalmente por não ser o interesse predominante no momento.

          Verdade que fui uma eterna lutadora para mantê-la, com a acentuada cintura de pilão, ancas largas, formando o estilo violão e, as coxas ( ai que tristeza!) grossas, o meu ponto fraco, assim como a tendência genética ao efeito sanfona.

          No entanto, o assunto do momento se prende ao colorido, bronzeado ou não,  em seus contrastes muito me agradavam e envaideciam, entretanto hoje, após olhadela ocasional quando passava pelo espelho do banheiro, constatei estar desbotando!

           Desbotando ou ficando translúcida?

           Desmaterializando, me transformando em luz, ou me dissolvendo, diluindo, me apagando, sumindo, sumindo até que...sumiu?

            Não sei, mas me assustei pois notei que se a pele continua clara, já não tem o mesmo viço e nem aquele brilho, os olhos se continuam azuis parecem ter desbotado ( não sei se de tanto chorar!) e os cabelos, alem de bem menos fartos, mais ralos e finos estão grisalhos, quase que predominantemente brancos, até as sobrancelhas rarearam e agora, por arrancar os fios brancos que teimam em  espetar delas, claras e mais finas!

            Volto a dizer: levei um susto ante a ideia de desaparecer!

             O pior é que não sei será assim num pluft de fantasminha ou, num ir se apagando, apagando, até que se apagou ou, se ficarei transparente a praticar galhofas e matreirices com quem não conseguir me enxergar, ou se virarei estrela a brilhar de luz ou ainda,  fogo fátuo a assustar  a incautos e medrosos...

           O assombro foi a constatação e o susto decorrente das considerações desencadeadas.

           Será?          

                                                                                                                

                 

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei! Bem criativa... genial...
beijos,
Cleide