sábado, 27 de outubro de 2012

CLARIDADE

 
 
 

              CLARIDADE

             As dobras e amarfanhados do lençol branco, se mesclavam á sinuosidade nua, do alvo e lânguido corpo bem torneado que preguiçosamente se deixava descansar, com gotículas de suor a brilhar á claridade da lua cheia penetrando pela janela aberta.

             Aquela claridade indiscreta revelava segredos de amor e de alcova!

             Ao lado do corpo nu e feminino, entregue ao repouso com a sensualidade do prazer alcançado e ainda saboreado, curtido, prolongado na entrega total, outro corpo também nu,  másculo e bem definido, bronzeado e  também exânime, em merecido repouso na entrega do dever cumprido, o repouso do guerreiro satisfeito.

            A claridade  atrevida da lua cheia, revelava a beleza das formas dos parceiros e também do encontro  havido há pouco, naquele leito cúmplice e palco da batalha, bailado e desempenho do amor, da paixão e do sexo jovem em sua plenitude de romance e ardor!

           Aquela mesma lua indiscreta aqui, com sua claridade brilhante na noite escura, em outra janela, talvez revele outros segredos, quem sabe torpes ou sangrentos e, acolá clarearia o caminho ermo e escuro de um pobre andarilho sem pouso e sem recursos, em busca de um destino em que pudesse largar o corpo alquebrado, sedento, faminto de amor e de pão!

         A mesma claridade, cúmplice na noite escura, de enredos diferentes de vida.       

                  
                        

sábado, 20 de outubro de 2012

ASAS COM "Z"

 
                      

                                                                           
                               
                  ASAS COM “Z” 

                 Dias destes, delicada mas incisivamente, fui corrigida por dileta amiga, pois acabara de cometer sacrílega falta para com a nossa língua.

                 Ousara escrever asa com “z”!

                 Certa estava a diligente amiga, pelo que muito agradeço!

                 Pressurosa, corri a salvar o texto em questão, fazendo as necessárias correções.

                 No entanto, de lá para cá,  tenho me sentido  mal, doem-me os braços, ombros e omoplatas!

                Quero esticar os braços e livremente batê-los como a alçar voos, ou simplesmente aquietá-los a plainar pelos ares.

                Difícil, no entanto !

                Entretanto, ainda não identifiquei se a dificuldade se prende á minha condição humana, em que as asas são meras e imprecisas recordações de um outro tempo ou dimensão, em que minha divindade hoje latente, era mais autêntica, não impressão saudosa e abstrata.

                 Não sei também se a dificuldade se prende á artrite reumatoide que trava os movimentos e impede o ágil “bater asas” ou se está apenas na impressão sensível de um subconsciente impressionável!

                 Sim, porque o “s” de asa tolhe os voos, impede com essa sinuosidade lânguida e escorregadia tal qual a viscosidade dos batráquios ou seja, dos sapos,  o abrir asas e alçar voos.

                 Quem nos levaria leves e soltos a desbravar os ares, a elegantes volteios, em voos rasantes ou rápidos e supersônicos, em mergulhos abruptos e brincadeiras vertiginosas e atrevidas, ainda ao plainar belo e tranquilo, seria  com certeza o ágil “z”.

                O formato e desenho anguloso do “z” permitiria a plena liberdade de movimentos com a agilidade e elegância necessárias.

               Voar, para mim, apenas possível com as belas, hábeis, ágeis e elegantes asas que, para serem plenas e eficazes, necessitariam trazer em si,  o “z” com o qual me identifico por trazê-lo duas vezes grafado, tanto no pré-nome  como num dos patronímicos.

              O “z” de azar que não diz respeito á má sorte, mas sim ás probabilidades da sorte, o “z” simpático das zebras que desfilam pelas selvas, circos e zoológicos com seus elegantes “ pijamas” e ainda, o “Z”  do Zorro, o também elegante e charmoso herói que resiste ao tempo e, que voa com seu rápido e lindo corcel, cortando os ares  e com seu chicote ou espada, fazendo a marca “Z”.

              Eu  quero retornar á dimensão divina e assim, quero de volta as minhas azas com “z”!  

                             

                          

                                    

sábado, 13 de outubro de 2012

PELOS MEANDROS DA ALMA HUMANA


                                  
                                   
                      PELOS MEANDROS DA ALMA HUMANA 

                      Não conheço a peça e  não li o livro, também desconheço o autor, sei apenas se tratar de gente aqui da terra, família de amigos de juventude do meu irmão caçula, mas em entrevista de “A Tribuna” de 10/09/12, o autor, Nelson Baskerville, referindo-se ao tema de “Meu irmão Luiz Antonio? Gabriela”, entre outras, disse uma frase :”revelar segredos que nos fazem sofrer é como ganhar asas”, declaração a meu ver, fenomenal!

                  Nada para libertar a alma humana como o se desfazer dos ranços e grilhões  que nos impõem  os outros ou nós mesmos, seja por vergonha, preconceito, educação, religião, escrúpulos ou respeito humano, medo dos julgamentos dos outros ou dos nossos mesmo. Por vezes até trancamos no inconsciente  os fantasmas para que não nos assombrem!

              Para quem se interessa pelos meandros da psique humana, para quem assiste, observa ou convive com as mudanças sociais  ou familiares, penso que tanto a peça quanto o livro , que ainda não assisti e nem li, devem ser corajosos , interessantes e atuais.

            Mas voltando  a “revelar segredos que nos fazem sofrer é como ganhar asas”, isso consegue bem quem tem facilidade de vertê-los para o papel, mas existem profissionais aptos para ajudar, os psicólogos ou a inda quem sabe, umas gotinhas maravilhosas do floral de Saint Germain, o  “Laurus Nobilis” , que nos ajuda a romper com os ranços ou grilhões do passado.

         Mas voltando ao objeto destas considerações, não apenas a frase me encantou como  despertou em mim o interesse pela obra e pela peça, alem do que me  fez considerar e reconsiderar meus próprios conceitos e prováveis preconceitos para com a temática do estudo e desabafo do autor.

           Abordagem atualíssima, “drama” vivido por inúmeras famílias que até há bem pouco tempo enterravam no  fundo dos baús e nos meandros do subconsciente familiar histórias que não ousavam encarar de frente, menos ainda    torná-las públicas e do conhecimento de amigos ou vizinhos.

          Os tempos mudaram, a sociedade ainda passa por adaptações, difíceis para muitos, mas as ciências contribuem para outro enfoque, assim como as legislações pátria e até a própria Justiça sabiamente se humaniza  e vemos que  o temido “Fim de 2012” o que está trazendo para a humanidade é renovação  , respeito e amor!  

 
                      

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ASSOMBRO !





          
                                                                                                                 

                

                     ASSOMBRO ! 

                Estou desbotando!

                De tez naturalmente alva com um leve toque rosado, o que fazia com que, na inconsequente adolescência e mocidade, me expusesse ao sol escaldante, com a ajuda de bronzeadores, muitas vezes pela irresponsável e rebelde criatividade, batizados, envenenados ou mesmo “fabricados” por mim , com “armas” então secretas

             Essa ousada “química” produzida toda no “olhometro” guiado pelos caprichos do momento, tinha por base o famoso óleo Johnson’s, outro tanto de azeite de dendê, algo de iodo e um toque caprichado de urucum, tudo em busca  de um ar saudável e atraente, contrastante com o claro dos risonhos ou sonhadores olhos azuis.

           Os cabelos longos e soltos, ou presos em articulados penteados, ou atrevidas “maria chiquinhas”, eram lindos e fartos com movimentos próprios e, castanhos escuros, quase negros, provocando um contraste que muito me envaidecia.         

         Bom, a verdade é que sem pejo de admitir, sei que realmente fui muito bonita.

         Verdade que se fui vaidosa, nunca fui fútil ou procurei me prevalecer disso, pelo contrário!

         Apreciava a beleza sim, mas também apreciava e respeitava a inteligência e procurava cultivá-la com leituras e conhecimentos os mais variados, dando imenso valor á cultura, tanto da mente quanto á do espírito.

         Mas, fiquemos no terreno do físico, por ser o objeto destas considerações, mas sem me  ater ás formas e nem se era gorda ou magra principalmente por não ser o interesse predominante no momento.

          Verdade que fui uma eterna lutadora para mantê-la, com a acentuada cintura de pilão, ancas largas, formando o estilo violão e, as coxas ( ai que tristeza!) grossas, o meu ponto fraco, assim como a tendência genética ao efeito sanfona.

          No entanto, o assunto do momento se prende ao colorido, bronzeado ou não,  em seus contrastes muito me agradavam e envaideciam, entretanto hoje, após olhadela ocasional quando passava pelo espelho do banheiro, constatei estar desbotando!

           Desbotando ou ficando translúcida?

           Desmaterializando, me transformando em luz, ou me dissolvendo, diluindo, me apagando, sumindo, sumindo até que...sumiu?

            Não sei, mas me assustei pois notei que se a pele continua clara, já não tem o mesmo viço e nem aquele brilho, os olhos se continuam azuis parecem ter desbotado ( não sei se de tanto chorar!) e os cabelos, alem de bem menos fartos, mais ralos e finos estão grisalhos, quase que predominantemente brancos, até as sobrancelhas rarearam e agora, por arrancar os fios brancos que teimam em  espetar delas, claras e mais finas!

            Volto a dizer: levei um susto ante a ideia de desaparecer!

             O pior é que não sei será assim num pluft de fantasminha ou, num ir se apagando, apagando, até que se apagou ou, se ficarei transparente a praticar galhofas e matreirices com quem não conseguir me enxergar, ou se virarei estrela a brilhar de luz ou ainda,  fogo fátuo a assustar  a incautos e medrosos...

           O assombro foi a constatação e o susto decorrente das considerações desencadeadas.

           Será?