ASSOMBRO !
Estou
desbotando!
De tez naturalmente alva com um
leve toque rosado, o que fazia com que, na inconsequente adolescência e
mocidade, me expusesse ao sol escaldante, com a ajuda de bronzeadores, muitas
vezes pela irresponsável e rebelde criatividade, batizados, envenenados ou
mesmo “fabricados” por mim , com “armas” então secretas
Essa ousada “química” produzida
toda no “olhometro” guiado pelos caprichos do momento, tinha por base o famoso
óleo Johnson’s, outro tanto de azeite de dendê, algo de iodo e um toque
caprichado de urucum, tudo em busca de
um ar saudável e atraente, contrastante com o claro dos risonhos ou sonhadores
olhos azuis.
Os cabelos longos e soltos, ou
presos em articulados penteados, ou atrevidas “maria chiquinhas”, eram lindos e
fartos com movimentos próprios e, castanhos escuros, quase negros, provocando
um contraste que muito me envaidecia.
Bom, a verdade é que sem pejo de
admitir, sei que realmente fui muito bonita.
Verdade que se fui vaidosa, nunca fui
fútil ou procurei me prevalecer disso, pelo contrário!
Apreciava a beleza sim, mas também
apreciava e respeitava a inteligência e procurava cultivá-la com leituras e
conhecimentos os mais variados, dando imenso valor á cultura, tanto da mente
quanto á do espírito.
Mas, fiquemos no terreno do físico,
por ser o objeto destas considerações, mas sem me ater ás formas e nem se era gorda ou magra
principalmente por não ser o interesse predominante no momento.
Verdade que fui uma eterna lutadora
para mantê-la, com a acentuada cintura de pilão, ancas largas, formando o
estilo violão e, as coxas ( ai que tristeza!) grossas, o meu ponto fraco, assim
como a tendência genética ao efeito sanfona.
No entanto, o assunto do momento se
prende ao colorido, bronzeado ou não, em
seus contrastes muito me agradavam e envaideciam, entretanto hoje, após
olhadela ocasional quando passava pelo espelho do banheiro, constatei estar
desbotando!
Desbotando ou ficando translúcida?
Desmaterializando, me transformando
em luz, ou me dissolvendo, diluindo, me apagando, sumindo, sumindo até
que...sumiu?
Não sei, mas me assustei pois notei
que se a pele continua clara, já não tem o mesmo viço e nem aquele brilho, os
olhos se continuam azuis parecem ter desbotado ( não sei se de tanto chorar!) e
os cabelos, alem de bem menos fartos, mais ralos e finos estão grisalhos, quase
que predominantemente brancos, até as sobrancelhas rarearam e agora, por
arrancar os fios brancos que teimam em
espetar delas, claras e mais finas!
Volto a dizer: levei um susto ante
a ideia de desaparecer!
O pior é que não sei será assim
num pluft de fantasminha ou, num ir se apagando, apagando, até que se apagou ou,
se ficarei transparente a praticar galhofas e matreirices com quem não
conseguir me enxergar, ou se virarei estrela a brilhar de luz ou ainda, fogo fátuo a assustar a incautos e medrosos...
O assombro foi a constatação e o
susto decorrente das considerações desencadeadas.
Será?