sábado, 8 de setembro de 2012

"ZÉ CAMPAINHA"

 

 

               “ZÉ CAMPAINHA”

 
                        
           São Paulo nos primórdios do século XX, lá pelas primeiras duas décadas, na já boa e tradicional Vila Mariana em que pássaros transavam por entre copas  das árvores dos jardins de nobres casas das classes média e abastada, ou nas árvores das tranquilas ruas em que a vida corria mansa e serena como seus transeuntes, apreciando a vida e o viver.

            Deslizavam pachorrentas as tardes e, alvissareiras as manhãs, em que senhoras, jovens e donzelas com suas meias de seda, luvas e graciosos chapéus, ou laços de fitas a prender os cachos das meninas, percorriam silenciosas as ruas amigas e hospitaleiras, cruzando de quando em quando, com bem posto cavalheiro que, discretamente as cumprimentavam retirando o chapéu.

           Alguns poucos carros trafegavam por aquelas ruas e, ás vezes  via-se uma carroça a apregoar alguma mercadoria.

          A monotonia discreta, vez por outra, era quebrada por grupos de estudantes esfuziantes  em algazarra própria de jovens meninos, descobrindo a vida e a alegria espontânea fora dos olhos paternos ou dos mestres zelosos pela disciplina, tanto quanto pelo saber.

         Era aí que, quase sempre, se ouvia qualquer deles, seja o Dudu, o Armando ou o Silvio, senão dois ou mais a gritar: ”Corre Zé”! e lá se ia a correr o “portuguesinho”tão camarada de seus amigos, enquanto se punham estes a correr também, após terem aprontado alguma marotagem própria da idade e da época.

         Mais tarde, no mesmo bairro, mais precisamente na rua Conde de São Joaquim com a rua Taguá, morando em residências cercadas de imensos jardins e quase em frente uma da outra, a meninada cresceu e o “Zé” aperfeiçoou-se com habilidade incrível, no concerto das raras campainhas das redondezas, coisa que fazia com imenso deleite e que lhe agraciou com o apelido de “Zé Campainha”

           “Zé Campainha” amadureceu, assim como todos os outros amigos e o irmão João e,da campainha seu gosto se estendeu aos carros e motos e ele, se formou, virou doutor, Fez-se gente, gente grande e de grande feitos.

           Esclareça-se que o “Zé Campainha”, o menino chamado “Portuguesinho”, o era apenas na ascendência e no nome, pois na realidade era brasileiro, tão brasileiro e paulista que eu soube que, no porão de sua casa de homem feito, já em outro bairro, porão que transformara em academia de ginástica para uso próprio em favor do zelo pela boa forma e saúde, mantinha com orgulho um capacete da revolução de 32.

            Não o conheci pessoalmente, apenas por correspondência ocasional, quando tive que tratar de assunto da Associação a que pertenço e á qual ele presidiu com eficiência e dedicação, entretanto eu o conheci desde sempre, pois era referência  constante das lembranças da minha família materna.

           Lembranças que povoaram de encantamento meus tempos de menina com as “façanhas” de tios e tias enquanto, a mim, tratavam de enquadrar nos moldes da boa e comportada menina, nada permitindo, a não ser brincar, com bonecas, uma linda e colorida piorra, ou sonhar com contos de fadas e as estórias vividas por eles e seus amiguinhos.

           Agora tiro da memória desses contos familiares, para participar de homenagem á já referida Associação, a figura simpática  que conhecemos no funcionalismo público do nosso Estado, aquele que aí fez história, o Sr. José Luzo Júnior, o menino “Zé Campainha”.


 

              
                                   

       
  

 

Um comentário:

Gisele Cezar disse...

Mazinha e suas histórias da vida real...poderia escrever uma mini série para a globo já pensou? Além de ficar famosa ganharia uns dindins a mais e isso é sempre bom.Te amo de coração ♥