sábado, 29 de setembro de 2012

ANARQUIA

                        A N A R Q U I A 

             Anarquia,

             Princípio que nega,

             Princípio que prega,

             Ausência, negação,

             Não de qualquer ação

             Tão pouco de consciência,

             Também não prega

             Qualquer franquia

             Em coisas da ciência

             Menos da sapiência,

             Sequer emprega  

             Culpa ou acusação,

             Presas na consciência.

             Anarquia,

             Se abstêm de compactuar,

             De se curvar, acovardar,

             Cegamente obedecer.

             A autonomia, respeita

             Em e de verdade,

             Como única autoridade

             A liberdade a perpetuar

             A autonomia respeitar,

             E ainda a individualidade!

             Esse o móvel da Anarquia.           

        
                              

sábado, 22 de setembro de 2012

HORIZONTES

                  
                     
      

          HORIZONTES

         Os horizontes são interessantes... delimitam a geografia em seus acidentes, em suas políticas, delimitam perspectivas marcadas a óleo, nanquim, crayon, pastel, em aquarela ou guache mas, os horizontes humanos são os mais sérios e os menos percebidos.

        Esses são os reais horizontes, esses são os que criam os outros, são os verdadeiros limites humanos e, não adianta querer ultrapassá-los quer pela tecnologia ou ciências outras, mesmo as chamadas humanas!

       Em razão dos limites humanos, de pouco vale a cultura, pois estão gravados indelevelmente, na cultura da própria alma, esses são os verdadeiros e reais limites, as linhas demarcatórias da alma humana, o que define o ser de toda e qualquer raça ou credo, define o ser chamado humano.

      Poucos, talvez, deles se apercebem, se conscientizem ou os levem a sério, porque isso, seria reconhecer sua própria impotência, suas reais perspectivas e, seus condicionamentos aos lugares comuns.

       Quantos horizontes existirão por aí, num mesmo núcleo sócio econômico, num agrupamento cultural ou mesmo familiar? Não sei, apenas procuro conter um pouco, o impulso que inconscientemente me faz procurar o meu, pois alem dos próprios, dos personalíssimos, a sociedade, a convivência e a conveniência, nos cria outros menores e, nos obriga a aceitar outros que não os nossos e, isso não é fácil, se bem que, por vezes, necessário e massacrante!

     Enfim, sendo como somos, os únicos animais chamados racionais e eminentemente sociáveis, temos que nos curvar ás linhas demarcatórias mais estranhas e pobres, para  que possamos continuar tidos por racionais e sociáveis, prosseguindo a respeitar o direito dos outros, mesmo que nos tolham a liberdade de ser.

      Não nos tolhem a liberdade de ser por vontade ou deliberação própria, mas apenas em razão de suas perspectivas, de suas linhas demarcatórias, da extensão de seus próprios horizontes e, de seus personalíssimos e indeléveis limites.    
     
                               

sábado, 15 de setembro de 2012

HOJE EU QUERIA.....

                            

 
                                         
                    HOJE EU QUERIA.... 

            Hoje estou cansada física,mental e também com cansaço psíquico enorme, um cansaço cão que chega ás raias da verdadeira e profunda estafa, do desencanto geral!

           Hoje eu queria ir para a minha casa, uma casa minha, minha de verdade!

          Uma casa  onde eu pudesse me deitar, descansar, dormir, gritar, pular, me descontrair ou me encolher, recolher, uma casa minha, em que me sentisse bem!

        Queria hoje, uma casa em que houvesse o bem, o bem puro e simples bem e, o bem querer, em que as pessoas, as coisas, os móveis e o imóvel fossem amigos, acolhedores, aconchegantes, revigorantes, solícitos, companheiros no silêncio, no silêncio solidário ou no ruído esfuziante, contagiante.

        Hoje eu queria ser realmente eu, um eu real, que ri, chora, canta, desafina, se desencanta , um ser que é total e plenamente, sem meias palavras, sem gestos contidos, sem sentimentos recolhidos ou expressões adaptadas às circunstâncias outras, aos humores dos outros, aos caprichos alheios, ás vontades imperantes e desumanas, estranhas!

        Queria hoje gritar e expor minhas entranhas, ser eu, enfim total e absolutamente eu!

         Hoje, eu queria um lar, um par de braços amigos e acolhedores, sem gestos de senhores, um coração irmão, amante, companheiro, um ombro forte e macio em que eu pudesse me encostar, me recostar, me encolher, me recolher, eu queria....um marido querido que soubesse me compreender e para quem eu fosse.....eu!

            Hoje eu queria.....de que adianta querer? 

 
              
                        
 

 

sábado, 8 de setembro de 2012

"ZÉ CAMPAINHA"

 

 

               “ZÉ CAMPAINHA”

 
                        
           São Paulo nos primórdios do século XX, lá pelas primeiras duas décadas, na já boa e tradicional Vila Mariana em que pássaros transavam por entre copas  das árvores dos jardins de nobres casas das classes média e abastada, ou nas árvores das tranquilas ruas em que a vida corria mansa e serena como seus transeuntes, apreciando a vida e o viver.

            Deslizavam pachorrentas as tardes e, alvissareiras as manhãs, em que senhoras, jovens e donzelas com suas meias de seda, luvas e graciosos chapéus, ou laços de fitas a prender os cachos das meninas, percorriam silenciosas as ruas amigas e hospitaleiras, cruzando de quando em quando, com bem posto cavalheiro que, discretamente as cumprimentavam retirando o chapéu.

           Alguns poucos carros trafegavam por aquelas ruas e, ás vezes  via-se uma carroça a apregoar alguma mercadoria.

          A monotonia discreta, vez por outra, era quebrada por grupos de estudantes esfuziantes  em algazarra própria de jovens meninos, descobrindo a vida e a alegria espontânea fora dos olhos paternos ou dos mestres zelosos pela disciplina, tanto quanto pelo saber.

         Era aí que, quase sempre, se ouvia qualquer deles, seja o Dudu, o Armando ou o Silvio, senão dois ou mais a gritar: ”Corre Zé”! e lá se ia a correr o “portuguesinho”tão camarada de seus amigos, enquanto se punham estes a correr também, após terem aprontado alguma marotagem própria da idade e da época.

         Mais tarde, no mesmo bairro, mais precisamente na rua Conde de São Joaquim com a rua Taguá, morando em residências cercadas de imensos jardins e quase em frente uma da outra, a meninada cresceu e o “Zé” aperfeiçoou-se com habilidade incrível, no concerto das raras campainhas das redondezas, coisa que fazia com imenso deleite e que lhe agraciou com o apelido de “Zé Campainha”

           “Zé Campainha” amadureceu, assim como todos os outros amigos e o irmão João e,da campainha seu gosto se estendeu aos carros e motos e ele, se formou, virou doutor, Fez-se gente, gente grande e de grande feitos.

           Esclareça-se que o “Zé Campainha”, o menino chamado “Portuguesinho”, o era apenas na ascendência e no nome, pois na realidade era brasileiro, tão brasileiro e paulista que eu soube que, no porão de sua casa de homem feito, já em outro bairro, porão que transformara em academia de ginástica para uso próprio em favor do zelo pela boa forma e saúde, mantinha com orgulho um capacete da revolução de 32.

            Não o conheci pessoalmente, apenas por correspondência ocasional, quando tive que tratar de assunto da Associação a que pertenço e á qual ele presidiu com eficiência e dedicação, entretanto eu o conheci desde sempre, pois era referência  constante das lembranças da minha família materna.

           Lembranças que povoaram de encantamento meus tempos de menina com as “façanhas” de tios e tias enquanto, a mim, tratavam de enquadrar nos moldes da boa e comportada menina, nada permitindo, a não ser brincar, com bonecas, uma linda e colorida piorra, ou sonhar com contos de fadas e as estórias vividas por eles e seus amiguinhos.

           Agora tiro da memória desses contos familiares, para participar de homenagem á já referida Associação, a figura simpática  que conhecemos no funcionalismo público do nosso Estado, aquele que aí fez história, o Sr. José Luzo Júnior, o menino “Zé Campainha”.


 

              
                                   

       
  

 

domingo, 2 de setembro de 2012

GAZETA




 
         

                  GAZETA 

                 Hoje estou prazerosamente me sentindo como uma adolescente em dia de “gazeta” como diriam nos velhos tempos os mais velhos ainda!

                Que prazer imenso!

                 Saber que se roubou tempo! Sim, tempo para nada se fazer por obrigação! Tempo para apenas viver, saboreando cada minuto, cada instante dessa tarde clara, luminosa e também fria á sombra!

               Clima ameno em pleno inverno e, o dia promete uma tarde gostosa com sabor de pecadilho, de tempo amorfo correndo de mansinho, preguiçosamente sem compromisso, já que preguei uma  mentirazinha inocente aqui, outra ali e me furtei de consulta médica, alegando ter uma outra, na realidade inexistente, só para me proporcionar essa maravilhosa tarde preguiçosa!

              Estou encantada com a vida! Com o saber nada ter a fazer, já que (outro prazer) me dei todo o dia de presente !

             Me dei esse dia de presente apenas para saboreá-lo, curti-lo, senti-lo passar morna e amorfamente, escorregar de mansinho, num pulsar lento o bastante para que se sinta o ritmo, descompromissado mas constante, da vida!

          Que bom se saber viva!

          Que agradável sentir o som, o cheiro, o gosto de tudo e de nada, apenas do viver!

          Agradável e sapeca a sensação de, nesta altura da vida ”matar aula”, fazer “gazeta” da vida e seus compromissos, para simplesmente ser, viver e assim, poder se sentir pura e simplesmente viva!     


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