“ZÉ CAMPAINHA”
São Paulo nos primórdios do século
XX, lá pelas primeiras duas décadas, na já boa e tradicional Vila Mariana em
que pássaros transavam por entre copas
das árvores dos jardins de nobres casas das classes média e abastada, ou
nas árvores das tranquilas ruas em que a vida corria mansa e serena como seus
transeuntes, apreciando a vida e o viver.
Deslizavam pachorrentas as tardes
e, alvissareiras as manhãs, em que senhoras, jovens e donzelas com suas meias
de seda, luvas e graciosos chapéus, ou laços de fitas a prender os cachos das
meninas, percorriam silenciosas as ruas amigas e hospitaleiras, cruzando de
quando em quando, com bem posto cavalheiro que, discretamente as cumprimentavam
retirando o chapéu.
Alguns poucos carros trafegavam por aquelas ruas e, ás vezes via-se uma carroça a apregoar alguma
mercadoria.
A monotonia discreta, vez por outra,
era quebrada por grupos de estudantes esfuziantes em algazarra própria de jovens meninos,
descobrindo a vida e a alegria espontânea fora dos olhos paternos ou dos
mestres zelosos pela disciplina, tanto quanto pelo saber.
Era aí que, quase sempre, se ouvia
qualquer deles, seja o Dudu, o Armando ou o Silvio, senão dois ou mais a gritar:
”Corre Zé”! e lá se ia a correr o “portuguesinho”tão camarada de seus amigos,
enquanto se punham estes a correr também, após terem aprontado alguma marotagem
própria da idade e da época.
Mais tarde, no mesmo bairro, mais
precisamente na rua Conde de São Joaquim com a rua Taguá, morando em
residências cercadas de imensos jardins e quase em frente uma da outra, a
meninada cresceu e o “Zé” aperfeiçoou-se com habilidade incrível, no concerto
das raras campainhas das redondezas, coisa que fazia com imenso deleite e que
lhe agraciou com o apelido de “Zé Campainha”
“Zé Campainha” amadureceu, assim
como todos os outros amigos e o irmão João e,da campainha seu gosto se estendeu
aos carros e motos e ele, se formou, virou doutor, Fez-se gente, gente grande e
de grande feitos.
Esclareça-se que o “Zé Campainha”, o
menino chamado “Portuguesinho”, o era apenas na ascendência e no nome, pois na
realidade era brasileiro, tão brasileiro e paulista que eu soube que, no porão
de sua casa de homem feito, já em outro bairro, porão que transformara em
academia de ginástica para uso próprio em favor do zelo pela boa forma e saúde,
mantinha com orgulho um capacete da revolução de 32.
Não o conheci pessoalmente, apenas
por correspondência ocasional, quando tive que tratar de assunto da Associação
a que pertenço e á qual ele presidiu com eficiência e dedicação, entretanto eu
o conheci desde sempre, pois era referência
constante das lembranças da minha família materna.
Lembranças que povoaram de
encantamento meus tempos de menina com as “façanhas” de tios e tias enquanto, a
mim, tratavam de enquadrar nos moldes da boa e comportada menina, nada
permitindo, a não ser brincar, com bonecas, uma linda e colorida piorra, ou
sonhar com contos de fadas e as estórias vividas por eles e seus amiguinhos.
Agora tiro da memória desses contos
familiares, para participar de homenagem á já referida Associação, a figura
simpática que conhecemos no
funcionalismo público do nosso Estado, aquele que aí fez história, o Sr. José
Luzo Júnior, o menino “Zé Campainha”.