domingo, 23 de abril de 2017

ESTRADA E LIBERDADE


                                           TEXTO ESCOLHIDO ENTRE OUTROS, PELA EDITORA COSTELA FELINA DE CLAUDIA BRINO E VIEIRA VIVO PARA COMPOR A ANTOLOGIA "BASEADO NA ESTRADA"  CRIADA DO CONCURSO  CUJA FINALIDADE FOI COMEMORAR DOS 50 ANOS DO MOVIMENTO HIPPIE.
                                                                           

                                    ESTRADA E LIBERDADE
                                                 


                Dizer que já se foram 50 anos! Isso é uma vida percorrida por caminhos íngremes, tortuosos, retos ou curvos, de densas matas, duras rochas, touceiras de capim ou flores campesinas a margear as estradas do meu caminhar.
                Jovem quase imberbe, uma mochila ás costas, um jeans desbotado, russo e roto, uma camisa florida, pendendo do pescoço um cordão de couro com medalhão símbolo da paz e nos pés andarilhos, sandálias de couro cru com solado de pneu, e no coração expectativas, na testa uma bandagem e à cabeça, algumas certezas e muitas indagações!
                Só ou em ocasionais bandos, caminhei por este mundão exercendo a liberdade de ser e de pensar.
                Liberdade, paz e amor! Esses os bens maiores, a meta, a bandeira que levavamos no coração e que hasteávamos por onde passássemos ou nos deixássemos ficar!
                Quase sempre o fazíamos ao som de um violão, ouvindo ou cantando coisas de Jimmy Hendrix, Jane Joplin, Bob Dylan e da galera que marcava os ritmos do nosso caminhar e viver, que falava a nossa língua e buscava o mesmo que buscávamos.
                Como era boa a roda em volta da fogueira em noites frias e estreladas em que puxávamos um baseado e cantávamos até o dia raiar ou nos entregávamos a viagens pelos caminhos do LSD!
                Não havia hora para nada e nem regras ou obrigações, apenas éramos e assim, confraternizávamos com os iguais!
                Vez por outra fazíamos artesanato que vendíamos em praças públicas ou feiras para ajudar na caminhada e sobrevivência até que, em São Paulo trataram de querer enquadrar o nosso viver e instituíram a “carteirinha de hippie“ para que expuséssemos na Praça Da República, levando-nos a buscar ruas alternativas ou que partíssemos para Embu das Artes com nossa bagagem a tiracolo.
                Grandioso foi o encontro para o festival de Wesak, na lua cheia de touro! Encontro festivo que atraiu a jovens e velhos de espírito jovem e liberto do mundo todo, marcando uma época e fazendo história! Apoteose!
                Quando dormia sozinho ao longo da estrada, buscava abrigo ao pé de uma árvore e antes que o sono chegasse, cumpria um ritual aprendido dos ciganos em cujo acampamento, uma noite pernoitara. Escolhido o sítio para a noite, em volta dele fazia um circulo de urina, demarcando o território para espantar malfeitores e animais ferozes ou peçonhentos.
                Assim segui perambulando pelos verdes anos do meu viver e hoje, com vagar e pesada bagagem da vida adulta, me volto para aqueles tempos em que a estrada era a minha vida e o mundo o meu lar!
                Paz e amor continuam sendo o lema do meu coração mesmo tendo decorrido tantos anos e hoje, com a experiência vivida, ainda acredito ser possível a liberdade, apenas uma questão de foro íntimo.

                                                          Mariza C.C. Cezar
                                                                                                             

                                                           



3 comentários:

Ana Maria Ierizzi disse...

Eu era menina nesta época, mas recordo os comentários que surgiram a respeito desta onda....O que mais me espantava era que muitos não gostavam de banhos, mas meus pais visitavam o Embu e curtiam muito o artesanato hippie....Era lindo, colorido, psicodélico. Obrigada pela linda viagem no tempo.

Flávio Tallarico disse...

Mais uma crônica em que você nos conduz a um passado distante mas inesquecível. Parabéns.

Suely Ribella disse...

O tempo passa e num piscar de olhos (hoje assim nos parece), lá se vão 50 anos...
Tempos que não se esquece...
Paz e Amor, Mariza!