TEXTO ESCOLHIDO ENTRE OUTROS, PELA EDITORA COSTELA FELINA DE CLAUDIA BRINO E VIEIRA VIVO PARA COMPOR A ANTOLOGIA "BASEADO NA ESTRADA" CRIADA DO CONCURSO CUJA FINALIDADE FOI COMEMORAR DOS 50 ANOS DO MOVIMENTO HIPPIE.
ESTRADA E LIBERDADE
Dizer que já se foram 50 anos!
Isso é uma vida percorrida por caminhos íngremes, tortuosos, retos ou curvos,
de densas matas, duras rochas, touceiras de capim ou flores campesinas a
margear as estradas do meu caminhar.
Jovem
quase imberbe, uma mochila ás costas, um jeans desbotado, russo e roto, uma
camisa florida, pendendo do pescoço um cordão de couro com medalhão símbolo da
paz e nos pés andarilhos, sandálias de couro cru com solado de pneu, e no
coração expectativas, na testa uma bandagem e à cabeça, algumas certezas e
muitas indagações!
Só
ou em ocasionais bandos, caminhei por este mundão exercendo a liberdade de ser
e de pensar.
Liberdade,
paz e amor! Esses os bens maiores, a meta, a bandeira que levavamos no coração
e que hasteávamos por onde passássemos ou nos deixássemos ficar!
Quase
sempre o fazíamos ao som de um violão, ouvindo ou cantando coisas de Jimmy
Hendrix, Jane Joplin, Bob Dylan e da galera que marcava os ritmos do nosso
caminhar e viver, que falava a nossa língua e buscava o mesmo que buscávamos.
Como
era boa a roda em volta da fogueira em noites frias e estreladas em que
puxávamos um baseado e cantávamos até o dia raiar ou nos entregávamos a viagens
pelos caminhos do LSD!
Não
havia hora para nada e nem regras ou obrigações, apenas éramos e assim,
confraternizávamos com os iguais!
Vez
por outra fazíamos artesanato que vendíamos em praças públicas ou feiras para
ajudar na caminhada e sobrevivência até que, em São Paulo trataram de querer
enquadrar o nosso viver e instituíram a “carteirinha de hippie“ para que
expuséssemos na Praça Da República, levando-nos a buscar ruas alternativas ou
que partíssemos para Embu das Artes com nossa bagagem a tiracolo.
Grandioso
foi o encontro para o festival de Wesak, na lua cheia de touro! Encontro
festivo que atraiu a jovens e velhos de espírito jovem e liberto do mundo todo,
marcando uma época e fazendo história! Apoteose!
Quando
dormia sozinho ao longo da estrada, buscava abrigo ao pé de uma árvore e antes
que o sono chegasse, cumpria um ritual aprendido dos ciganos em cujo
acampamento, uma noite pernoitara. Escolhido o sítio para a noite, em volta
dele fazia um circulo de urina, demarcando o território para espantar
malfeitores e animais ferozes ou peçonhentos.
Assim
segui perambulando pelos verdes anos do meu viver e hoje, com vagar e pesada
bagagem da vida adulta, me volto para aqueles tempos em que a estrada era a
minha vida e o mundo o meu lar!
Paz
e amor continuam sendo o lema do meu coração mesmo tendo decorrido tantos anos
e hoje, com a experiência vivida, ainda acredito ser possível a liberdade,
apenas uma questão de foro íntimo.
Mariza C.C. Cezar
3 comentários:
Eu era menina nesta época, mas recordo os comentários que surgiram a respeito desta onda....O que mais me espantava era que muitos não gostavam de banhos, mas meus pais visitavam o Embu e curtiam muito o artesanato hippie....Era lindo, colorido, psicodélico. Obrigada pela linda viagem no tempo.
Mais uma crônica em que você nos conduz a um passado distante mas inesquecível. Parabéns.
O tempo passa e num piscar de olhos (hoje assim nos parece), lá se vão 50 anos...
Tempos que não se esquece...
Paz e Amor, Mariza!
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