domingo, 13 de abril de 2014

CONFISSÕES



                               Boa noite meus fieis amigos! Hoje deixo com vocês um texto de autoria da minha sobrinha Gisele Cezar Martins, o que não é a primeira vez que faço. Espero que gostem.
Abraços meus,

                            Mariza C. de C. Cezar


                                                                                     
                                                                                            CONFISSÕES

         Realmente chego à conclusão que sou uma ilha inatingível em algum ponto do pacífico, pura e simplesmente pelo que o nome nos induz a pensar! Paz... é isso!Uma ilha longínqua, mas apesar da distância e contrariando a sua inatingibilidade a extinção atinge meus mares de tão explorados que eles se encontram!
         Tenho uma obsessão pelos livros e pelas palavras, mas deixo-os ao lado do lençol estendidos no chão e me esticando ao máximo, reteso meus nervos de aço enquanto abandono as palavras escuras em meus pensamentos, criando um obstáculo para que elas não pulem do imaginário, para o mundo real. Mundo Real?
         O único contato que tenho tido com a tal realidade, se dá através deste teclado virtual, que me conecta com o inteligível e temporariamente afasta-me do meu mundo doente. É isso! Tudo o que há em mim está incuravelmente enfermo. Acho que um cancro etéreo corroi minha vontade, dizimando aos poucos tudo o que um dia sonhei para mim e então me deixo, sem coragem, momento a momento, olhando para um ponto fixo no teto, e dentro de mim, alimento o vazio que me alimenta.
         Sei que daqui há pouco tomarei banho e me prepararei para o seminário ironicamente intitulado “ a era do vazio”, sei também que sorrirei, falarei frases altamente elaboradas, podendo-se dizer até mesmo, “ intelectuais”! Fácil  repetir ideias de estudiosos que alimentam mentes brilhantes! Serei bem sucedida em minha apresentação e depois, para continuar a abrandar o nada, sentaremos todos como pessoas civilizadas e beberemos algumas cervejas, dialogaremos um pouco mais sobre filosofia, psicologia e todas as orgias finais e então, cumpridas as tarefas da vida diária, nós viraremos as costas e nos diremos até mais.
         Talvez seja por isso que me deixei envolver pelas poesias, pelas persianas que ventam o mar, devido ao distanciamento que me proporciona proteção, assim posso sustentar em mim um único vínculo com a lucidez, enquanto que, por traz da cortina, continuo a me jogar nesse poço sem fim e, hora após hora eu caio um pouco mais para dentro desse buraco infernal e, como quem não tem forças para nem mais um suspiro, eu me solto e, com todo o peso das pedras que carrego, mergulho para as profundezas dos braços de Poseidon
Morte! Morte, morte, berram as vozes em meus ouvidos e eu, sorrio para o inevitável Sei que é isso que atrai o desfecho final onde saberei ou não, da dor que sempre e sempre, me devorou como sanguessuga voraz! Assusto-te com meu semblante sereno de fertilidade? Perdoe a incontrolável volúpia que vez por outra acomete meus desejos insatisfeitos! Dias como estes são exceções no mundo da imaginação e, esquizofrenicamente a  sanidade me acompanha nesta tarde, forçando-me à sinceridade.
Fujam enquanto as  aranhas ainda não teceram  em suas mentes, os contos de terror que lhe aprisionarão para todo o sempre em um antro de perversão. Corram enquanto a inocência de certa forma ainda não lhes abandonou e agarrem-se à pureza que, como mestra e amiga, sempre nos indica o caminho à redenção, pois nas bem aventuranças o Messias mesmo  nos revelou: “Felizes os puros de coração porque eles verão a Deus”.
Veem? As palavras fluem um pouco melhor, não é? Então aproveitem essas palavras e não deixem que elas lhes enganem, pois tudo tem um duplo sentido e, se hoje escandalizo, é para dizer quem sou, mas resta ainda em mim, um vestígio de luz  que terei, eu mesma que reanimar matando, na penumbra, todos os outros eus que alimento em segredo. É uma luta de sobrevivente e, ao vencedor será dada a coroa da vida!
Um dia, um anjo chamado Augusto, escreveu a esse vencedor:
         “  VENCEDOR
Toma as espadas rútilas, guerreiro,
e à rutilância das espadas, toma
a adaga de aço, o gládio de aço, e doma
meu coração – estranho carniceiro!

Não podes? Chama então presto o primeiro
e o mais possante gladiador de Roma.
e qual mais pronto e qual mais presto assoma
Nenhum pôde domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todos, uns cem...
E não pôde domá-lo enfim ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!”

É isso, meu coração de poeta, insaciável como esse meu espírito que vaga pelo mundo sem ser de ninguém, sem ter canto, recanto ou sossego, mas como uma ilha  solta e naufraga no oceano, afunda como Atlântida do mar das Bahamas, e nas solitárias tardes de um dia qualquer, em que os peixes foram todos capturados pelas redes e pelos mausoléus dos criadores de homens, eu que, como transatlântica, mergulho um pouco mais nesse precipício chamado dia.

                                    Gisele Cezar Martins
                                    Maringá,01/04/2004
                                                        
                                                         
                                                                                 

Um comentário:

Anônimo disse...

Página linda, deixou-me sem fôlego e sem palavras. Parabéns, Gisele!
Obrigada, Mariza, por dividir com seus leitores e amigos!
Beijinhos para as duas!

http://suelyribella.blogspot.com.br/