ERA UMA VEZ UMA...
Triste
árvore!
Única
entre tantas outras árvores, arbustos ou seculares, estas poucas e cada vez
mais raras, rodeadas por frutíferas ou frondosas, espalhando sombra e frescor!
Árvores as mais diversas, algumas floridas como o ipê, o manacá da serra, a
quaresmeira e as paineiras distribuindo flores, cores e perfumes, beleza por
entre os vários tons de verde daquele mar de vívidas folhagens espalhadas por
férteis terras que sobem colinas, galgam montes e cordilheiras, correm
campinas, abrigando rios e escondendo cachoeiras.
No
cair da tarde, qual vizinhas matraqueiras de subúrbio, se põe a contar umas às
outras as novidades do dia e a vida das vizinhas e o vento, se encarrega de
espalhar histórias e boatos que divertem algumas espantando outras.
Chegando
a noite, abrem seus braços para abrigar aves em busca do pouso noturno.
Pequenos animais também se achegam e vão se instalando abrigados por frondosas
copas. As senhoras faladeiras a todos abraçam e aninham quais mães zelosas e
hospedeiras solícitas.
Apenas
a triste árvore do começo da nossa história, não se comprazia com as histórias
do fim das tardes, preferindo ouvir o canto das companheiras ao som das brisas
e aragens e até das tempestades que regem o bailado desenfreado, orquestrado e
coreografado pelas intempéries que agitam as ramagens e tresloucados galhos em
ritmos atávicos.
A
nossa árvore triste ali chegara ainda em pequenina semente carregada pelo vento
e vinda de lugares distantes. Germinou na terra fértil e cresceu rodeada por
espécies outras, sem igual naquele espaço, buscando o sol, aproveitando as
necessárias sombras e chuvas, foi crescendo, desabrochando, tentando se
aclimatar. Alimentou sonhos de participar, de se identificar, de construir
alianças e frutificar.
Fez
poucas alianças e foi fustigada e invejada por muitos, pois à medida que
desabrochava e encorpava, foi se distinguindo pelo porte e pela beleza
diferente.
Nossa
triste e bela árvore nunca realizou o sonho de se expandir em vida, de frutificar
e se cobrir de suculentos e apetitosos frutos que alimentassem vidas e
cumprissem suas razões de ser, espalhando pela terra fértil, suas sementes, sua
espécie!
Verdade
que se não deu frutos, sua alma e seu coração de árvore-mãe verteu sua doce e nutritiva
seiva, alimentando às outras espécies, à terra amiga e a vários animaizinhos
que, sedentos ou famintos, se abrigavam e se aninhavam na segurança da sua
disponibilidade amiga.
Hoje
mais frágil e vivida, com menos vigor e seiva, continua a acolher peregrinos,
mas agora se sente triste e só e nem sabe por quanto tempo ainda isso se dará!
Mariza C.
de C. Cezar
‘