ALMOÇO DE NATAL
Em rústica e imensa mesa
de madeira, principalmente para os meus tenros 3 a 5 anos, mesa daquelas de
fazenda, toda engalanada por alva e engomada
toalha branca de banquete, posta com requintes apropriados à data, no entanto
bem lá no fundo do quintal, mais precisamente, no início do pomar e, sob
frondosa e carregadinha amoreira de negros e saborosos frutos, foi que passei
alguns inesquecíveis almoços de Natal!
Tenho vivo na memória esse quadro,
pelo prazer da família grande e quase toda reunida, os vários tios e tias, cada
qual com a sua penca de filhos, alegrando aquele almoço festivo e ricamente
preparado.
Tiradas dos guardados as
preciosas louças vindas de alem mar, e ainda os talheres brilhantemente
polidos, os imensos guardanapos de linho com monograma bordados, enfeitavam a
mesa.
As travessas vinham da
cozinha, lindamente decoradas, com assados dourados e cheirosos, enchendo-nos a
boca de água, inflando nossas narinas e dando brilho aos olhos, despertando o
apetite e a gula!
As saladas, maioneses e
farofas, estas levemente úmidas e enriquecidas com tudo de saboroso que a tia acrescentava
com amor para agradar aos nossos paladares!
As sobremesas então! Estas
arrancavam ah! e oh! das crianças e adultos e estes também se faziam crianças,
levados pelo espírito do dia e da comemoração!
Festivos e saudosos almoços
natalinos havidos em clima de amor e comemoração!
Era criança pequena, no entanto, me
lembro bem da alegria, dos sorrisos e
abraços, até de algumas tias que, durante o ano, vez por outra, diminuindo o
tom da voz e, como quem contasse um segredo, censuravam ou revelavam algum
feito atribuído a qualquer delas.
Isso me maravilhava! Ver o
milagre que Jesus fazia no seu almoço de aniversário, todos reunidos, risonhos,
alegres e amigos em volta da mesa, festejando e comemorando o almoço em
família!
Um abraço aqui, uma brincadeira
ali, muitos brindes e alguém, sempre inspirado pelo espírito da data e do
vinho, erguendo um brinde pedia a palavra e falava bonito até que cansava e, um
outro alguém desse vivas e erguendo outro brinde, encerrasse o espírito exuberante daquele falador de
belas e pastosas palavras.
Tudo era festa! Foi aí que
nos enchendo de susto a princípio e, de largas risadas a seguir, que a nossa
acolhedora anfitriã, a senhora amoreira ,
começou a derrubar seus roliços frutos, que estouravam enodoando à branca
toalha sobre a mesa!
Passado o susto da
primeira amora a se despencar com um sonoro “ploft”, caímos todos na risada e ergueram, os
adultos, mais um brinde, desta vez à participação da bela árvore, enquanto nós,
as crianças, entre risos batíamos palmas alegremente encantadas!
Sim, naquele almoço era tudo festa!
Hoje à distância, vejo que fora uma deliciosa
festa aquele Natal, sob a amoreira no fundo do quintal, em plena rua da Consolação
em São Paulo, Capital!
2 comentários:
E tudo era festa... que maravilha!
Gosto de ler suas histórias, gosto de ouvir vc contar, ler, declamar ... rs...
Desde as primeiras palavras um desenho ia se delineando, formando um quadro de beleza real, culminou com a imagem da menina, que se misturou com a foto, resultante daquela infante, dos tempos idos caminhando para o presente, nesta brilhante intelectual que nos presenteia com estas ricas publicações literárias!
Parabéns a ela e a nós,leitores!
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