sábado, 21 de julho de 2012

IN MEMORIAM




                                       “IN MEMORIAM”

              Sou um cara boêmio, “bom vivam”, solteiro empedernido, que muito já vi e vivi neste mundo de homens e de Deus. Sou displicente e pavio curto, pequeno-burguês classe média, num deslizar pachorrento pela vida, em andanças notívagas.

             Gosto do sol e, seminu curto esse sol nas nossas praias santistas, enfim  eu sou eu, homem vivido dentro das minhas perspectivas, profissional militante já há mais de duas décadas, percorrendo corredores e cotovelos da Justiça dos homens.

          Com essa minha apresentação, quero apenas dar a vocês, a oportunidade de avaliar o enfoque pessoal do que vou agora narrar, pois nunca antes vira procissão igual.

         Marcou-me, é verdade, a romaria que tenho presenciado neste último mês, todos os dias úteis, entre as 11,30 e 13,15 hs, pelo quarto andar de imponente prédio público deste nosso município e comarca.

         São moças, moças e outras já  não tão moças, senhoras e donzelas, baixas e altas, gordas ou magras, louras, ruivas, morenas, grisalhas ou negras, femininas ou indefinidas, esportivas ou clássicas, sérias ou nem tanto, enfim todas elas, essas funcionárias públicas, já há muito minhas conhecidas, quer de balcões, quer de salões, que transitam, uma por uma, quando não de duas a duas, com pratos, talheres, marmitas e restos de comida, de suas respectivas repartições, até a copa ao final do corredor.

        Curioso como ao longo desses anos de exercício profissional, nunca imaginei, como por certo meus colegas, a situação precária em que vivem no dia a dia, essas peçazinhas da máquina governamental!

        Tão curioso achei esse desfilar, que tenho voltado sempre a observar tal atividade e, notei que, quando voltam com a louça lavada, essas funcionárias, retornam sobre seus passos, entrando na porta anterior á da referida copa e, ás pressas ou devagar, risonhas ou cabisbaixas, sempre com  escova de dentes, sabonetes, toalhas de mão, retornam ás respectivas salas, para sem pausa ou salutar descanso, iniciarem com “ar!” profissional, seus papéis funcionais.

        Essa procissão diária das bóias frias do asfalto, me  causou estranheza e eu, que muito já vi e vivi, fiquei tocado, pois me julgo um homem do mundo e concluí, que desconhecia parte do mundo em que sempre vivi, desconhecia particularidades do dia a dia das operárias  da Justiça, dessa mesma Justiça em que sempre atuei e cri.





                       

Um comentário:

Gisele Cezar disse...

Essa foi você quem escreveu mazinha?
Poxa ta tão bucólica e romântica! Muito gostosa de ler!!!