Coisa mágica o retrato!
Registra, congela no tempo um
instante, uma fração de segundos, mantendo a imagem mesmo que venha se esmaecer
após longo tempo, mas mesmo assim mantêm vívido aquele instante de dor ou de
glória.
Mantêm também a expressão fisionômica,
retêm o brilho dos olhos, um arfar de narinas, um arquear de sobrancelhas , um
certo “ar” de sorriso expressando prazer, dissimulação ou ironia, até a
tentativa de disfarçar certo constrangimento!
Eterniza ainda a esbeltez do talhe
ou o porte ereto, altivo, solene ou descontraído, até um certo “ que”
displicente do rebelde adolescente ou da jovem esportista descontraída, como do
jovem que se “acha” posando de artista.
Os “ nerds” não posam, são
flagrados e eternizados assim como a adolescente gorducha, gulosa, algo
desajustada ou marginalizada, como também a franzina “ quatro olhos” e de
aparelho nos dentes!
Registra para a posteridade, a
família em pose solene, orientada pela hierarquia parental ou pela altura,
melhor compondo a estética do grupo.
São tantas as fotos guardadas em
álbuns ou caixas!
Momentos festivos ou tristes, todos
registrados para ilustrar e avivar lembranças, para apresentar ás proles da
própria prole, seus antepassados orgulhosos de suas figuras ou figurações sócio
familiar!
Certeza de ter existido, de ter
estado aqui e de fazer parte do amanhã, mesmo que num fragmento de tempo assim
eternizado!
O triste de se ver certos álbuns, é
que pessoas tão belas e aprumadas, passem a ser vistas como pessoas estranhas,
caricatas do tempo, ostentando roupas, penteados e até poses tão ultrapassadas!
Tão chocantemente fora de moda que, ao invés de inspirar orgulho ou admiração
aos descendentes, principalmente aos jovens do tempo futuro, provocam rizinhos irreverentes e comentários galhofeiros!
Confesso que sempre gostei de
fotografias e aí entrava a vaidade de quem se sentia jovem e se sabia bela, só
que tudo isso passa e, corremos o risco de mais tarde, nos sentirmos ao
revê-las, caricatura das imagens eternizadas.
Sábios os indígenas que não admitiam
ser fotografados por acharem que estariam lhe roubando a alma e, nisso eles
reforçam o entendimento da radiestesia e radiônica, que nos alerta que foto é um dos mais fortes testemunhos
energéticos, com que se trabalha em magia.
E como somos incautos ou mesmo
irresponsáveis para com esses testemunhos nossos!
De minha parte, detesto as fotos muito
posadas, que se tornam em certas circunstâncias, artificiais, grotescas mesmo.
Prefiro instantâneos mais
expressivos, mais autênticos e naturais, aqueles que nos revelam com indiscreta
autenticidade, com verdade!
Fiquei realmente chocada com o
desapego e desrespeito com que certas pessoas tratam essas memórias
eternizadas, pois não é que existe um comércio estimulado pelo orgulho e
vaidade no ato de compra e venda através de antiquários?!
Propuseram-me certa ocasião em que
vendi objetos antigos e artísticos, por
passageiro revés financeiro, a venda de velhas fotos e então fiquei sabendo desse desonroso comércio!
Não é que alpinistas sociais, sem
histórias, sem passado, pelo menos sem nada ostentável, procuram a esses
comerciantes atrás de velhas fotos que
emolduradas, colocadas em velhos álbuns ou porta-retratos, irão ser ostentados
como de nobres e velhos antepassados que passarão a garantir história e
dignidade distantes de suas realidades.
Isso me deixou tristemente enojada da
pequenez humana e, pensei mais uma vez, se não teriam os índios, em sua
sabedoria atávica, razão para fugir das fotos?
Mas que eu gosto, lá isso eu gosto!
Curto ver e rever velhas fotos, retratos
antigos, fazes diferentes da minha vida e me lembrar, lembrar e sonhar, sonhar
e reviver!