sábado, 28 de julho de 2012

RETRATO



      



                   RETRATO

                Coisa mágica o retrato!

                 Registra, congela no tempo um instante, uma fração de segundos, mantendo a imagem mesmo que venha se esmaecer após longo tempo, mas mesmo assim mantêm vívido aquele instante de dor ou de glória.

                Mantêm também a expressão fisionômica, retêm o brilho dos olhos, um arfar de narinas, um arquear de sobrancelhas , um certo “ar” de sorriso expressando prazer, dissimulação ou ironia, até a tentativa de disfarçar certo constrangimento!

             Eterniza ainda a esbeltez  do talhe  ou o porte ereto, altivo, solene ou descontraído, até um certo “ que” displicente do rebelde adolescente ou da jovem esportista descontraída, como do jovem que se “acha” posando de artista.

            Os “ nerds” não posam, são flagrados e eternizados assim como a adolescente gorducha, gulosa, algo desajustada ou marginalizada, como também a franzina “ quatro olhos” e de aparelho nos dentes!

            Registra para a posteridade, a família em pose solene, orientada pela hierarquia parental ou pela altura, melhor compondo a estética do grupo.

            São tantas as fotos guardadas em álbuns ou caixas!

            Momentos festivos ou tristes, todos registrados para ilustrar e avivar lembranças, para apresentar ás proles da própria prole, seus antepassados orgulhosos de suas figuras ou figurações sócio familiar!

            Certeza de ter existido, de ter estado aqui e de fazer parte do amanhã, mesmo que num fragmento de tempo assim eternizado!

            O triste de se ver certos álbuns, é que pessoas tão belas e aprumadas, passem a ser vistas como pessoas estranhas, caricatas do tempo, ostentando roupas, penteados e até poses tão ultrapassadas! Tão chocantemente fora de moda que, ao invés de inspirar orgulho ou admiração aos descendentes, principalmente aos jovens do tempo futuro, provocam rizinhos irreverentes e comentários galhofeiros!
        Confesso que sempre gostei de fotografias e aí entrava a vaidade de quem se sentia jovem e se sabia bela, só que tudo isso passa e, corremos o risco de mais tarde, nos sentirmos ao revê-las, caricatura das imagens eternizadas.
         Sábios os indígenas que não admitiam ser fotografados por acharem que estariam lhe roubando a alma e, nisso eles reforçam o entendimento da radiestesia e radiônica, que nos alerta  que foto é um dos mais fortes testemunhos energéticos, com que se trabalha em magia.

         E como somos incautos ou mesmo irresponsáveis para com esses testemunhos nossos!

         De minha parte, detesto as fotos muito posadas, que se tornam em certas circunstâncias, artificiais, grotescas mesmo.

          Prefiro instantâneos mais expressivos, mais autênticos e naturais, aqueles que nos revelam com indiscreta autenticidade, com verdade!

         Fiquei realmente chocada com o desapego e desrespeito com que certas pessoas tratam essas memórias eternizadas, pois não é que existe um comércio estimulado pelo orgulho e vaidade no ato de compra e venda através de antiquários?!

        Propuseram-me certa ocasião em que vendi objetos antigos e artísticos, por  passageiro revés financeiro, a venda de velhas fotos  e então fiquei  sabendo desse desonroso comércio!

        Não é que alpinistas sociais, sem histórias, sem passado, pelo menos sem nada ostentável, procuram a esses comerciantes atrás de velhas fotos  que emolduradas, colocadas em velhos álbuns ou porta-retratos, irão ser ostentados como de nobres e velhos antepassados que passarão a garantir história e dignidade distantes de suas realidades.

        Isso me deixou tristemente enojada da pequenez humana e, pensei mais uma vez, se não teriam os índios, em sua sabedoria atávica, razão para fugir das fotos?

        Mas que eu gosto, lá isso eu gosto! Curto  ver e rever velhas fotos, retratos antigos, fazes diferentes da minha vida e me lembrar, lembrar e sonhar, sonhar e reviver!

          
       

sábado, 21 de julho de 2012

IN MEMORIAM




                                       “IN MEMORIAM”

              Sou um cara boêmio, “bom vivam”, solteiro empedernido, que muito já vi e vivi neste mundo de homens e de Deus. Sou displicente e pavio curto, pequeno-burguês classe média, num deslizar pachorrento pela vida, em andanças notívagas.

             Gosto do sol e, seminu curto esse sol nas nossas praias santistas, enfim  eu sou eu, homem vivido dentro das minhas perspectivas, profissional militante já há mais de duas décadas, percorrendo corredores e cotovelos da Justiça dos homens.

          Com essa minha apresentação, quero apenas dar a vocês, a oportunidade de avaliar o enfoque pessoal do que vou agora narrar, pois nunca antes vira procissão igual.

         Marcou-me, é verdade, a romaria que tenho presenciado neste último mês, todos os dias úteis, entre as 11,30 e 13,15 hs, pelo quarto andar de imponente prédio público deste nosso município e comarca.

         São moças, moças e outras já  não tão moças, senhoras e donzelas, baixas e altas, gordas ou magras, louras, ruivas, morenas, grisalhas ou negras, femininas ou indefinidas, esportivas ou clássicas, sérias ou nem tanto, enfim todas elas, essas funcionárias públicas, já há muito minhas conhecidas, quer de balcões, quer de salões, que transitam, uma por uma, quando não de duas a duas, com pratos, talheres, marmitas e restos de comida, de suas respectivas repartições, até a copa ao final do corredor.

        Curioso como ao longo desses anos de exercício profissional, nunca imaginei, como por certo meus colegas, a situação precária em que vivem no dia a dia, essas peçazinhas da máquina governamental!

        Tão curioso achei esse desfilar, que tenho voltado sempre a observar tal atividade e, notei que, quando voltam com a louça lavada, essas funcionárias, retornam sobre seus passos, entrando na porta anterior á da referida copa e, ás pressas ou devagar, risonhas ou cabisbaixas, sempre com  escova de dentes, sabonetes, toalhas de mão, retornam ás respectivas salas, para sem pausa ou salutar descanso, iniciarem com “ar!” profissional, seus papéis funcionais.

        Essa procissão diária das bóias frias do asfalto, me  causou estranheza e eu, que muito já vi e vivi, fiquei tocado, pois me julgo um homem do mundo e concluí, que desconhecia parte do mundo em que sempre vivi, desconhecia particularidades do dia a dia das operárias  da Justiça, dessa mesma Justiça em que sempre atuei e cri.





                       

domingo, 15 de julho de 2012

Mercedes Sosa Gracias a La Vida

COMEMORAÇÃO POR E EM 16/07


       
               COMEMORAÇÃO POR E EM 16/07 

                   De repente, uma vontade incrível de escrever alguma coisa para festejar o meu viver e ainda, no estágio do desejo, fiquei buscando um título que norteasse o deslanche do ato de fazê-lo.

                 Pensei pomposamente em “Ode á Vida”, depois em “Ação de Graças á Vida” e, se era tudo isso que eu queria dizer, não desejava e também não sabia como fazê-lo.

                  Isso porque dentro de mim talvez não houvesse ainda, um acordo sobre a exuberância, a pompa e o festivo da expressão de um sentimento que, se trazia em si tudo isso e, talvez muito mais, trazia também algo tão fortemente íntimo e intenso que pedia recolhimento, silêncio, para que curtisse intensamente e com a totalidade que só a quietude traz.

            Era o desejo de festejar aos quatro ventos e, ás sete direções galácticas e, com prazer imenso, a alegria por viver, as belezas da vida e, o quão agradável é coparticipar do pulsar, do despontar, do desabrochar da vida em todas as suas nuances, tons, contrastes de sabores ou de luz e sombras.

            Sim, de luz e sombras com seus graus de sonoridades e coloridos que se mesclam e se entrelaçam criando sublimações ou deturpações e a tudo fazendo festivo na dança da vida e na festa do viver!

            Mas era também um certo pejo em festejar efusivamente e com inconsequente estardalhaço, algo tão íntimo e precioso, algo que para ser tão intensamente curtido, necessitaria da quietude do recolhimento, para que nada, nenhum detalhe se perdesse desse êxtase de vida, desse prazer imenso de comungar com o Absoluto e, sentir Sua vida e Seu suave e dinâmico pulsar em onipresença em tudo, em todos e, em mim mesma!

            Então meus amigos, fica aqui o meu singelo:-“Estou muito, muito e imensamente feliz!

             Feliz em ser, em viver e em abraçar a cada um de vocês num abraço grande e amoroso, em que me abraço também, assim como abraço ao mundo, á vida e ao viver!”
 
                                




domingo, 8 de julho de 2012

LIBERDADE DE PENSAMENTO


                  LIBERDADE DE PENSAMENTO
           Voa pensamento, voa!
           Sai livre por aí, plainando, rompendo barreiras em voos supersônicos, dando ocasionais mergulhos, para depois arrancar em abrupto para o alto, em ascensão vertiginosa.
          Viaja pelos ares, dormitando em ocasionais flocos de brancas nuvens, volteia com pássaros, pesca ou caça com águias e condores, cantando ou grasnando a própria liberdade em coro com as aves.
        Quando se cansar de brincar pelo ar, volte á terra, mergulhe por ela a dentro, especule por suas rochas e veios, mergulhe nas eras do tempo, gravadas em registros históricos nas suas camadas geológicas, encontrando rios e veios subterrâneos, verdadeiros registros minerais, arquivos que detêm segredos de vida e sobrevivência do planeta!
       Sinta a força o cheiro e quem sabe o gosto de teimosas raízes que muito têm a contar.
       Converse com elas, viaje além do tempo e do espaço, aventure-se até se cansar, sabendo sempre que tem o poder e a liberdade de ir e vir, portanto de voltar, se e quando o quiser, então, só então retorne.
        Sim, retorne por livre escolha, á superfície, então role nas gramas e pastos, beba o leite quente dos gados, corra e percorra  estradas encontrando transeuntes, viajantes, acompanhe-os e papeie com eles bebendo a sabedoria e os “causos” mais diversos.
       Siga o ritmo do acaso e da liberdade, partindo adiante a correr e saltar colinas, montanhas, cordilheiras, refresque-se nas águas cantantes dos riachos ou, caudalosas e rápidas dos rios, escorregue com elas, pelas corredeiras, precipitando-se pelas cachoeiras e cataratas, encontrando, pelo caminho arroios e piscinas naturais!
            Siga livremente e deságue na imensidão do mar, note o gosto salgado dessa água, por vezes densa, outras límpidas, mudando sua tonalidade do claro azul ao turquesa, passando para o verde tom de  garapa e chegando ás vezes ao cinza!
           Descubra a flora e fauna de suas profundezas! Se encante brincando com os golfinhos  e com eles nadando, seguindo-os como a anjos cicerones desse reino encantado!
         Essa viagem de sonho, mágica, enriquecedora, atrevida e aventureira, é total e plenamente sua! Personalíssima, pois seu guia e agência de turismo são os mesmos,pois são sua, somente a sua liberdade de pensamento é que pode levá-lo como e quando quiser para os itinerários mágicos que lhe aprouver, dando asas á sua imaginação e vontade, quando e se de sua vontade, pode trazê-lo de volta ao lugar comum do cotidiano, á segurança do lar e ninho, recebendo-o com flores e vinho ou, um fumegante café ao pé de acolhedora lareira em que salamandras dançam a dança do fogo ao crepitar da lenha.
            Demos vivas á sagrada liberdade de pensamento!