REVOLUCIONÁRIO DE OUTROS TEMPOS.
Figura
de homem velho e algo alquebrado. Mais velho do que na realidade seria seu
tempo cronológico de vida.
Filho
mais velho de grande prole, como era comum à época de fim de início de época e
de fim e início dos séculos dezenove e vinte, ainda mais em se tratando de
família às antigas.
Estudara
apenas o necessário para o meio rural dos cafeicultores, não era muito dado às
letras, cuidava mais dos afazeres da cafeicultura, mas não era de todo
iletrado, alguns assuntos o prendiam vez por outra a ocasionais leituras, nunca
temas poéticos ou literários, assuntos mais práticos que dissessem respeito às
coisas da terra, suas economias e mãos de obra.
Contam
que certa vez, o pai que necessitara viajar para cuidar e supervisionar a
colheita da safra de suas muitas fazendas de café, por ser o filho mais velho,
se bem que ainda um rapazinho, o deixara à testa da casa sede, residência da
família e da administração dos trabalhos e colheita dos seus cafezais.
Jovem
e imbuído de consciência social despertada pelas leituras que o prendiam nas
horas de ócio, que não eram poucas, e ainda do convívio com os trabalhadores
rurais nas terras da família, aproveitando a ausência do pai, resolveu reunir
os colonos em frente à tuia e subindo em palanque improvisado com caixotes
disponíveis, passou a discursar tentando
abrir os olhos dos trabalhadores das
terras, para que não se deixassem explorar.
Inflamado
pela própria eloquência, passou a lhes enumerar os direitos comumente olvidados
pelos senhores e pela mão de obra que no mais das vezes os desconhecia.
Foi
no auge de tamanha e inflamada eloquência que o flagrou o pai voltando antes do
previsto da viagem empreendida.
Caiu
no descrédito paterno o jovem revolucionário a quem vim a conhecer muitos anos
depois, já de aparência alquebrada e de precoce velho, reduzido a pobre figura
de pobre bolso e de triste vida, como sua prole nada pequena já que essa
herança genética foi a única que herdou depois do malfadado arroubo pelas
causas sociopolíticas.
Mariza C.C. Cezar
2 comentários:
Minha amiga, sempre lúcida em suas crônicas sobre os diversos comportamentos humanos, mais uma vez nos alerta de que nem sempre a verdade é benéfica aos que a praticam.
Este caso traz à tona um filho que cai em desgraça perante o pai, por alertar os colonos sobre seus direitos e benefícios que constam nas leis. Um caso triste de escravidão branca que, quando desnudada, traz a maldição paterna para aquele filho que, na visão do pai, é um filho ingrato que deve definhar em velhice precoce. Mais uma vez, amiga, parabéns. Um abraço.
Muito bom!
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