DOS TEMPOS DE ANTANHO...
Vemos essas mesas postas
com requinte, tão formosas e convidativas, a nos seduzir, afagar ao nosso ego
como se fosse uma carícia cheia de promessas, enquanto salivamos com o apetite
e até a gula despertada e imaginando as iguarias a serem ofertadas e saboreadas.
Da mesa posta ao
cardápio, á degustação e digestão!
Louça inglesa sobre toalha bordada e com detalhes preciosos
de renda irlandesa, os copos de cristais lapidados com mestria a tilintar ao
toque, com sonoro e alegre eco, a lavanda com elegância colocada á frente, em
diagonal ao lado dos pratos, para que os comensais lavem as pontas dos seus
dedos.
Já os guardanapos
grandes, com monogramas que acompanham à toalha, lindamente dobrados e postos
em cima de cada prato ou ao lado nos “sou-plats”em
mesas mais modernas.
Os descansos de talheres
também ao lado já os talheres foram deixados para depois, mas sempre lindamente
polidos de prata de lei, alguns com detalhes
em ouro, hoje os mais comuns de alpaca Wolf, ou inoxidáveis.
Os talheres foram
deixados para o final é por terem uma regra lógica e importantíssima em sua
disposição e isso não se deve ao capricho dos requintes apregoados pelo saudoso
Marcelino de Carvalho, mas sim por praticidade e elegância ao usá-los.
Vamos a eles pois em
primeiro lugar devem ser colocados os talheres, à direita e à esquerda do prato
e sempre a serem usados de fora para dentro, isto é na prioridade de uso, de acordo
com o serviço e a ordem a serem apresentados.
Isso me foi ensinado
pela minha tia-mãe, a já famosa T’a Tita, enquanto contava uma estória com sabor
do tempo de antanho, quando as mulheres
ainda não tinham queimado seus sutiãs e não eram imponderadas.
A menininha que eu era
ouviu atentamente à estória e mais tarde a transmitiu às crianças da família e
ensinou a muitas domésticas que teve ao longo dos anos, no entanto essa pequena
estória hoje, já não teria o mesmo gosto ou efeito, pois os tempos mudaram!
Vamos ao exercício de
memorização:
Antigamente, como os tempos
eram diferentes e as mulheres mais frágeis e temerosas, nunca saiam de casa
sozinhas, no mínimo iam de duas a duas, sempre com uma companhia, então
vejamos: “a” faca e “a” colher
são femininas portanto estão sempre
juntas e como são tementes e temerosas andam sempre pelos caminhos da direita e
assim “a” faca e “a” colher ficam do
lado direito do prato, já “o” garfo é masculino e assim sendo corajoso e
atrevido está sempre só e pelos caminhos tortuosos e sinistros, andam
pela esquerda e assim ficam do lado esquerdo do prato.
Já
as crianças como requerem cuidados dos adultos ficam acima dos pratos, para que
os mais velhos zelem por elas e assim, os talheres de sobremesa são dispostos
seguindo a ordem, “a” colher e “a” faca são colocados à frente do prado com os
cabos para a direita e, entre elas e com o cabo para a esquerda deverá ficar “o”
garfo.
Antiga
ou não, creio que ainda serve para ensinar e memorizar a distribuição dos
talheres à mesa desde que não se trate de serviço à americano os atuais por serem informais e práticos mais ao sabor dos tempos modernos que são
corridos e dinâmicos.
Mariza C.C. Cezar
5 comentários:
Uma bela crônica ensinando comportamento e etiqueta. Um abraço.
Antanho... tempos outros, mais refinados, mais elegantes, mais bonitos... Hoje, pouco se vê desses costumes.
Gostei de ler, refletir... Obrigada, Mariza. Bjos.
Formosa Mariza,
simplicidade,
altiva, altaneira,
sobeja, boas maneiras!
Beijo no coração amiga! Obrigado pela lição!
Mariza, tão luminoso, tão ensolarado este blog. Parece um dia no campo. Aromas, perfumes, e brisas para espalhá-los. Ah, que bom aspirá-los.
Raul, quanta honra e prazer me dá uma visita tão ilustre quão douta ! Seu gentil comentário me sensibiliza e incentiva. Hoje me sinto realizada. Obrigada e abraços.
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