quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

QUERIA SER...

                                                                                                                                                               
                QUERIA SER...





                Hoje queria ser uma minhocazinha  despreocupada, pelo menos penso que as minhocas não se preocupam e nem sei se ao menos pensam ou se serão apenas movidas a instintos, mas voltando ao meu  repentino e estranho desejo de ser uma pequena minhoca, abriria buracos na terra fofa, e como os faria com afinco e prazer!
                Penso que abriria um túnel e só pararia quando encontrasse local aconchegante e tranquilo em que finalmente me sentisse relaxada e segura.
                Seria um retorno ao útero materno o que anseio? Acaso seria à proteção, nutrição, aconchego e então tranquilizada me sentiria ao ritmo pulsante da vida ao compasso do coração materno que embalaria e impulsionaria  o meu a bater também?
                Sem lembranças intrauterinas, apenas memórias sensitivas e atávicas me atraem e traem o estranho desejo da busca de um recôncavo aconchego como o da pequena minhoca dos meus devaneios.
                Angustiada cheguei ao desejo de “ minhocar” e ao começar a viagem em pensamento como usualmente faço mesmo sob pressão, me pus a divagar sobre a vida desses seres que úteis são adubando e arejando à terra, hortas e canteiros.
                Saudáveis as terras que habitam, no entanto são consideradas ou desconsideradas por grande maioria dos humanos que as entendem feias, nojentas e insignificantes.
                Já na minha imaginação que se dividiu  em curiosidade científica no campo da biologia, e em criatividade a inventar estórias sobre suas vidas e a vida que levam, seus inter-relacionamentos com os da mesma espécie e de outras diferentes.
                Conjecturei ainda sobre seus passeios intraterrenos, seus castelos escondidos e suas viagens e aventuras ao ar livre, quando saem a respirar e a passear ao sol.
                Quantos detalhes inventei e até desenhos animados fiz em minha cabeça, dessas estórias criadas e frutos da minha imaginação!
                Pouco tempo é verdade, mas por momentos vivi como se minhoca fosse e consegui como por milagre fugir dos pensamentos da vida séria e dos cálculos e ginásticas mentais que se perdem em eternas contas de chegar e sobre o rumo a tomar.
                                         Mariza C.C. Cezar
                                                                                                

         

Um comentário:

Flávio Tallarico disse...

Estranhas essas sensações momentâneas e incompreensíveis que de nós se apoderam repentinamente. A nossa imaginação é mais fértil do que a terra onde a Mariza minhoca por instantes se transformou, como se estivesse vivendo um drama kafkaniano. Esta noite, tenho a certeza, você voltará a ser a doce Mariza e sonhará com os anjos. Um abração.