sábado, 6 de agosto de 2016

O BRINDE DO BRUXO

                                                                             
                                                                       
                              O BRINDE DO BRUXO
                                                      
                                                       

                Era menina no tempo em que aos 12 anos a adolescente ainda era criança de laço de fita nos cabelos, babado no corpo do vestido para esconder os seios que em pequenos botões ensaiavam o desenvolver. Os irmãos menores também crianças inocentes e o Natal já passara com visita do Papai Noel, o velhinho simpático  que nos deixava presentes, se não o esperado, deixava outros que também nos punham contentes.
                Estava a se aproximar a ceia da passagem de ano e minha mãe a cozinhar, cuidava dos preparativos como todo ano fazia, pois pela tradição  da sua família a data especial era esperada, preparada e festejada com todos os recursos que a sorte e o ano permitissem, mais seus sacrifícios e dedicação para oferecer à família e ao ano novo, o melhor.
                Aquele ano, teríamos um conviva, amigo recente de meu pai, com ares misteriosos e a mim antipáticos, mas não ousava me manifestar, era criança e às crianças não se permitia pareceres, no entanto percebi que minha mãe comungava com a minha opinião sobre o convidado de meu pai.
                Mesa posta com os requintes que a ocasião pedia, e o bolso permitia, os assados a preencher a casa com cheiros convidativos, frutos frescos e os secos, farofa doce e a salgada, maionese e doces para a sobremesa, vinho tinto e refrigerantes, tudo apetitoso e a contento.
                Todos em roupas festivas e muita expectativa a despeito do clima de discussão havida horas antes às portas fechadas no quarto de meus pais e que deixara  certo mal estar pairando no ambiente.
                Chega o convidado com seu grande anel de pedra preta que vim a saber se chamar ônix e que meu pai abaixando a voz tinha dito ser pedra de grande força e magia e que só os graduados em ocultismo poderiam usar e o anel desse senhor, tinha uma incrustação em ouro sobre a referida pedra.
                Chegou o bruxo, pensei sem muita animação e vi quando entregou um pacote de bom tamanho a meu pai dizendo que seria para o brinde da meia noite, com o fim de trazer prosperidade.
                Nova troca de palavras tensas entre meus pais na cozinha, enquanto eu e meus irmãos procurávamos fazer sala ao visitante.
                A ceia transcorreu dentro da normalidade pois os quitutes de minha mãe eram adoravelmente saborosos e nos colocaram em festa e gula.
                A meia noite chegou e o conviva se dirigiu à cozinha com meu pai e retornaram solenemente trazendo às mãos o presente por ele oferecido e, feita uma oração, abriram a primeira garrafa de vinho da noite e a despejaram no recipiente ofertado e então, para surpresa e asco nosso, foi-nos recomendado que  tomássemos um único gole do vinho servido, para que o ano novo trouxesse prosperidade, e o recipiente era um grande penico branco que nos garantiram ser virgem e devidamente higienizado!
                Que horror! As crianças choravam e eu, com lágrimas nos olhos e estomago embrulhado, tentei ser obediente, mas não consegui!
                Por muito tempo me perguntei se fui a culpada pelo ano difícil e de parcas finanças que passamos durante aquele ano que acabara de chegar.

                                                 Mariza C.C. Cezar
                                                                                                                   

                                                 
                                                    

6 comentários:

Suely Ribella disse...

Senhor!!! Nem que apanhasse e muito, eu beberia o tal vinho em tal recipiente! rsrsrs Adorei ler este seu relato! Muito bom! Beijinhos saudosos, amiga! (Sei que estou em falta, logo faremos contato)

Flávio Tallarico disse...

Cara amiga: bom dia. Realmente tomar vinho em um penico na noite de ano novo, servido por um estranho senhor de anel de pedra preta, é por demais assustador. Parabéns por mais esta deliciosa crônica. Um grande abraço.

Ana Maria Ierizzi disse...

Aí amiga eu teria feito o mesmo������

Jouvana disse...

Ave maria!! Um novo tipo de decanter!!! Tb n tomaria. Eis a questão, tomar ou não!!!

Carlos Gama disse...

Nem morta, Crotirde, nem morta!
Desculpe-me, Mariza, mas foi a expressão que me ocorreu ao ir chegando ao final da leitura.
Por melhor que fosse o vinho...
Excelente relato!
Abração!

olivia duarte disse...

Belíssima crônica querida amiga Mariza Cezar...lembrei-me com saudades da minha doce infância e dos entes queridos que participavam dessa festa,saboreando os quitutes da minha mãe,que hoje se encontra em outra dimensão.Quanto ao bruxo...deve ter sido um mau presságio.Em plena Festa Natalina,eu queria estar diante de uma Fada boa,repartindo presentes repletos de amor.Beijos amiga linda,amo ler seus textos,tão bem elaborados.