DUAS CONTAS
Dois holofotes,
duas contas azuis a sorrir para a vida, a descortinar sonhos e registrar o
cotidiano, e tanto olharam e embalaram sonhos, iluminaram caminhos e carregaram
esperanças, tantos desencantos nublaram o que antes descortinavam, tantas
lágrimas sentidas rolaram dessas contas, por vezes sem conta e sem contar o
porque desse rolar contínuo e triste que os faróis foram se nublando e as
contas desbotando, se tornando opacas, sem vida, sem brilho, surgindo aqui e
ali uma jaça, tristeza
ou acúmulo químico dos remédios da vida que amenizam aqui e castigam ali e
assim, sob tênue gaze que esvanecia a realidade como se sete véus cobrissem
sinuosidades e escondessem verdades, nudez ou resguardassem sonhos inconfessos,
surgiu o risco, grave risco de a gaze se encorpar, de vez esconder o que havia
por detrás do olhar e este opaco , baço , se vivo, morto apresentar-se-ia, o
recurso foi a cirurgia, recurso moderno, quase indolor e hoje uma conta se dá
conta que o mundo resplandece, brilha, tem luminosidade, claridade e volume que
antes desaparecia sob as gazes que esparsas, se mantinham a enevoar a vida ,
impedindo o descortinar das cores e da vida! Hoje feita a cirurgia de uma, vejo
como é bela a vida e como há esperança nela e no decorrer dos dias, a outra no
entanto, colocada na ordem cirúrgica em segundo plano, baça, mostra a vida
acinzentada, bege, encardida e se a outra com a lente , vê beleza esta triste
pouco vê, mesmo porque sem óculos e as lentes a que se habituara, manca a visão
, empobrece o descortinar da percepção.! Dia virá, tenho certeza que sua vez chegará e aí haverá festa! Serão as
contas, duas vestais azuis a rever a vida, descortinar mundos e abrilhantar o
cotidiano e festejar o amanhã!
Mariza C C Cezar 19.10.2015
3 comentários:
Cara amiga. Também soubeste fazer com que uma simples cirurgia de catarata se transformasse em deliciosa crônica. Parcialmente a luz se fez, quando uma conta voltou a brilhar. Quando a outra conta ganhar o brilho, tenho a certeza de que você fará outra crônica igualmente bela como esta, ou ainda duplamente inspirada por sua visão restaurada. Abraço.
Um canto à vida e ao privilégio de ver. A alma agradecendo pela benção.
Os mesmos azuis, agora renovados...
Fernando Pessoa
Os teus olhos azuis são cor do céu
Os teus olhos azuis são cor do céu
E são por isso cor do paraíso.
Vejo-os e passa no coração meu
Como uma saudade o seu sorriso.
Estrelas matutinas no acordar
Do meu amor, azul do céu distante…
E eu, se os olho, fico sempre a olhar,
E a olhar esqueço minha dor constante...
Olhos azuis cuja alegria é a flor
Da minha dor tornada comoção...
Flori de aurora a minha negra dor…
Só com olhar-me abri-me o coração…
[Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993]
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