sábado, 16 de fevereiro de 2013

CINZAS

                                                                                  

 

                 CINZAS 

                 Quarta feira de cinzas!

                  Logo cedo, quando voltávamos fantasiadas e á pé do clube em que curtimos, pulamos, dançamos, brincamos, flertamos as quatro noites de carnaval, cruzamos com um grupo de jovens e senhoras de mantilha na cabeça ou no pescoço e terços e missais às mãos!

                Mamãe que nos acompanhava sempre, como mãe e foliona que sempre foi, como toda a minha família , nos recomendou discrição para que nossa euforia não agredisse às convicções religiosas do grupo passante.

              Nosso trajeto era de meia quadra, pois essa a distância do clube para a nossa casa, o que dispensava o uso do carro, mas foi o suficiente para o encontro, no mínimo interessante e propício a questionamentos  de foro íntimo.

             Após o banho, cama e á tarde, guardar as fantasias que hibernariam por um ano no mínimo, varrer os confetes e serpentinas, recompor a casa e retomar o cotidiano.

            Foi guardando as fantasias que encontrei, no meio ao colo da blusa, ainda alguns confetes remanescentes da folia.

            Esses três confetes, despertaram em mim, lembranças justamente do momento em que ali se alojaram e então, revi  na memória o lindo moreno de finos traços e grande e penetrantes olhos verdes, me dando um grande “banho” de confetes verde e rosa!

           Senti de pronto uma volúpia nunca sentida e, moça romântica e sonhadora , virgem e pura, irracionalmente e com ritual pagão, querendo não sei se comungar com o deus das fantasias, devorar o objeto dos sonhos, sei que ainda não entendi o real significado daquela antropofagia simbólica, daquela comunhão absoluta, daquele coito ritualístico e simbólico pois, pensando naquele lindo moço com quem não troquei nenhuma palavra ou aperto de mão, de quem nunca soube nem o primeiro nome, engoli solenemente os três confetes!

          Fiquei assustada mas em paz e, isso guardei como segredo absoluto  e omiti tal ritual até nas confissões feitas ao longo dos anos, só revelando agora, aqui, nestas lembranças que conto a vocês.                    
           

                                                                                                      

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei a leitura que fiz neste blog. Parabéns pela fluência e facilidade de contar estórias.

Sonia Miranda disse...

Mariza

Lindo texto, principalmente o final.
Bjs
Sonia