CINZAS
Quarta feira de cinzas!
Logo cedo, quando voltávamos
fantasiadas e á pé do clube em que curtimos, pulamos, dançamos, brincamos,
flertamos as quatro noites de carnaval, cruzamos com um grupo de jovens e
senhoras de mantilha na cabeça ou no pescoço e terços e missais às mãos!
Mamãe que nos acompanhava
sempre, como mãe e foliona que sempre foi, como toda a minha família , nos
recomendou discrição para que nossa euforia não agredisse às convicções
religiosas do grupo passante.
Nosso trajeto era de meia quadra,
pois essa a distância do clube para a nossa casa, o que dispensava o uso do
carro, mas foi o suficiente para o encontro, no mínimo interessante e propício
a questionamentos de foro íntimo.
Após o banho, cama e á tarde,
guardar as fantasias que hibernariam por um ano no mínimo, varrer os confetes e
serpentinas, recompor a casa e retomar o cotidiano.
Foi guardando as fantasias que
encontrei, no meio ao colo da blusa, ainda alguns confetes remanescentes da
folia.
Esses três confetes, despertaram em
mim, lembranças justamente do momento em que ali se alojaram e então, revi na memória o lindo moreno de finos traços e
grande e penetrantes olhos verdes, me dando um grande “banho” de confetes verde
e rosa!
Senti de pronto uma volúpia nunca
sentida e, moça romântica e sonhadora , virgem e pura, irracionalmente e com
ritual pagão, querendo não sei se comungar com o deus das fantasias, devorar o
objeto dos sonhos, sei que ainda não entendi o real significado daquela
antropofagia simbólica, daquela comunhão absoluta, daquele coito ritualístico e
simbólico pois, pensando naquele lindo moço com quem não troquei nenhuma
palavra ou aperto de mão, de quem nunca soube nem o primeiro nome, engoli
solenemente os três confetes!
Fiquei assustada mas em paz e, isso guardei
como segredo absoluto e omiti tal ritual
até nas confissões feitas ao longo dos anos, só revelando agora, aqui, nestas
lembranças que conto a vocês.
2 comentários:
Adorei a leitura que fiz neste blog. Parabéns pela fluência e facilidade de contar estórias.
Mariza
Lindo texto, principalmente o final.
Bjs
Sonia
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