(Variação sobre o tema anterior de título "CINZAS", agora narrado com o enfoque de outra pessoa)
RITUAL
Quarta feira de cinzas!
Fim do carnaval, término
das folias, dos bailes, das fantasias, dos confetes, serpentinas, lança
perfumes, marchas, sambas, descontração alegre em que famílias inteiras pulavam
animadas, em geral as quatro noites de bailes!
Quarta feira de cinzas que punha um
fim á euforia carnavalesca e que anunciava e trazia os pesados e contritos
quarenta dias da quaresma.
E que forte significado
sempre teve essa quarta feira! Um marco, algo realmente sério, contrito.
No entanto, foi justamente
guardando as fantasias, nessa quarta feira de há muitos e muitos anos atrás
que, num repente, a moça donzela, virgem e pura, romântica e sonhadora, ao
encontrar na blusa da fantasia, que guardava para um ano de hibernação, três
confetes remanescentes do banho de confetes verde e rosa que lhe dera aquele
flerte das quatro noites de bailes, na última terça feira gorda, ao final do
baile, como que pedindo atenção, querendo e exigindo se fazer notar!
A jovem pura e sonhadora,
entrou em êxtase ante os confetes, que tomou reverente e cuidadosamente com as
mãos e, num gesto impensado, elevou-as ao alto, depois
comprimiu-as com os confetes, bem junto ao coração e, como em ritual pagão,
engoliu-os com atitudes antropofágicas
ou como se fora de uma comunhão total com o objeto e origem daqueles confetes,
praticando, quem sabe, um coito ritualístico com o objeto de suas fantasias de
carnaval!