sexta-feira, 14 de outubro de 2011

VOCE VIVE NA LEMBRANÇA...E NA BOA FORMAÇÃO DA CRIANÇA

    
                  VOCE VIVE NA LEMBRANÇA....


                 E NA BOA FORMAÇÃO DA CRIANÇA DESDE

14 de outubro de l955      
                        
                          
                                        
                 Ai meu tio, que saudade de você!
                 Da sua barriguinha empinada, encimando as pernas finas, finas e morenas.
                Que saudade do seu sorriso fácil, dos seus olhos negros, escuros e brincalhões. Do seu bigode certo sob o leve adunco do nariz.
               Que falta dos seus braços! Braços amigos que sabiam envolver com amor, acolher com calor.
               Que saudade!... Do seu espírito boêmio, das nossas noitadas alegres, de papos, sanduiches de padaria ou sorvetes comprados ás tardias horas das noites, dos quitutes ás mesmas horas, vez por outra feitos ao fogão.
              Que falta da flauta e do violão! Das poesias ditas em boa entonação, todas de poetas antigos, amigos das coisas do coração! Assim como você, poeta e amigo, todo coração.
              Lembro-me de você, com grande carinho, com enorme vazio no meu bem querer.
              Saudade das suas raras zangas, rápidas e passageiras, em falas miúdas, nervosas e apressadas, irritadas, por momento.
            Constante na lembrança o seu fraco pelo joguinho, do carteado de pif-paf, a sua força com o tabaco, superado em favor dos caprichos do amor.
           Eu me lembro de você artista, arteiro, moleque por vezes, sério nas coisas sérias, intransigente até! Conservador, conversador, sociável e companheiro, de você pintor que em pinceladas largas, nas telas punha a alma das coisas, gentes, flores ou paisagens, e á sua, que ás outras captava com sagacidade própria da personalidade sensível,de gente do seu nível, de elevação espiritual e moral.
         Que falta me faz seus convites rápidos, insistentes, imperiosos e convincentes á oração, á missa do meio-dia na velha Pompéia, ao culto noturno e presbítero acompanhando á “Titinha”, companheira mimosa, cheirosa, caprichosa, que era todo o seu amor! A dona do seu coração, coração grande e amigo dos pobres e desvalidos a quem socorria, enquanto acorria ao penhor e agiotas, passando quem sabe, por idiota,  para aqueles distantes do seu valor.
       Que saudade do meu tio! Que era quem me levava a concertos, que me forçava nos solfejos, acompanhava nos folguedos de criança e adolescente!
        Como me lembro dos seus carrinhos! Sckoda e Fordinho, todos pequenininhos, que emperravam em momentos incertos, ferindo minha vaidade tola de menina-moça, aluna do “Stella Maris”  e moçoila do Clube XV.
       Tio, quero sentir você me envolver com seu amor, me abrigar no seu regaço, no calor do seu abraço, na certeza de você! Amigo desvelado e presente, em momentos do presente  e nos dias do amanhã!...
       Tio, faltou dizer das valsas, daquelas em que eu rodopiava pelos braços seus, aprendendo a dançar, a bailar e embalar.
       Faltou dizer dos carnavais, festejos alegres que não tenho mais, das festas juninas havidas nos quintais, dos aniversários festejados em comum.
       Faltou dizer... falar de tanta coisa! Pois o nosso tempo foi uma vida vivida plena e totalmente, formando bases indeléveis mesmo pelo mundão de porteiras abertas pelos contrastes de hoje, pelos costumes outros, de outra era, em que tudo já era, em nada volta jamais, a não ser na lembrança, na boa formação da criança e na saudade do coração.
      Eu nada disse meu tio, dos nossos banhos de mar em que você me ensinou a nadar, dos papos em japonês com as pitorescas figuras das vendedoras nipônicas que, no meu tempo de criança, coloriam as praias santistas e, que sorrindo e de mãos á boca, se afastavam devagar.
      Não disse nada das nossas viagens no vagão–leito do trem, o “Ouro Verde” da Sorocabana, das festas na volta, com a matula materna de virado de frango caipira.
     Quase olvidara as noites sérias e sem fim em que, aos processos debruçado, você trabalhava afinco, em luta constante, incessante luta pela Justiça a que se dedicara e, em que acreditava a despeito das injustiças vividas e sofridas.
      Tio, você não foi. Você vive na lembrança, no amor e na semente do bem que plantou em meu coração.
      Que saudade imensa! Mesmo quando sinto sua presença, seu carinho vivos na lembrança, quando sinto você junto de mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

...huuum...saudade,saudade...Lindo saudosismo!!!! Adorei!
beijos,
cleide

Anônimo disse...

Ficou ótimo, a placa já está sendo providenciada.Sonia

Anônimo disse...

Querida Mariza,como vc está bonitinha nesta foto!Adoro fotos em preto e branco...lindo texto bjus,
Monica