terça-feira, 20 de agosto de 2019

MOMENTO

Momento.                                                Deixei meu velho ninho ! Transplantada e ainda acampada precariamente , procuro sobreviver ouvindo o mar mas não o gorjeio das aves e o constante aviso dos bem-te-vis aos quais eu respondia em alto e bom tom ! Formávamos um dueto de saudações, eu ainda na cama e eles na copa de alguma árvore. Aqui não escuto o barulho das ruas, nem a altas horas a balbúrdia dos retardatários da cervejaria em frente, menos a faxineira do prédio arranhando a calçada entre um alto e bom som e ocasionais gargalhadas que saiam guturais das goelas em tom forçado mais a querer mostrar humor  e tão longe dele quão o bom senso ausente no extravagante uso as largas da creolina como do cloro todos puros e sem diluir! Aqui sinto a friagem do piso  a me subir pelas pernas e lá, no antigo ninho tinha  aconchegante madeira a acolher-me os pés artríticos. Saudade versos expectativas, esse o momento em que precariamente me situo! A paisagem que se descortina da janela está nublada e o contorno do horizonte perdido nas brumas. Antevejo a insinuação do recorte da ilha Urubuquecaba, que não sei se a vista pressente ou a memória que a mantém ..Esperemos a volta do sol e que esta canceriana com forte tendências felinas se aninhe e curta o novo ,construindo um aconchegante ninho.                                Mariza C.C.Cezar 

3 comentários:

Sonia Miranda disse...

Lindo texto,retrata bem sua nova casa.Parabéns!

Flávio Tallarico disse...

Querida amiga, agradeço mais uma vez por nos brindar com uma crônica tão deliciosa de ser lida, como você tão bem sabe a fazer. Parabéns.

Jouvana disse...

Ah Mariza como é dificil mudar de ninho.mas somos capazes de nos readaptar, pois estamos sempre aprendendo...Busque diferenças na nova paisagem. Pense que cada dia Deus pinta de uma cor o mar, os céus e junto deles a constante interferência humana. Barquinhos navios aviões. Até novas aves a voar...