ELE FOI ESPECIAL!
Muito comum se falar em saudade, principalmente os
mais velhos, aqueles que têm história e recordações.
No meu caso tenho imensa saudade e posso dizer que de
“alguém” muito especial, tão especial que ainda parece ter vida, tão presente e
atuante companheiro enquanto foi meu.
Nas minhas memórias ainda tem e nenhum outro dos muitos
que tive, significou companheirismo e identidade como o primeiro que marcou
território e me fez cativa!
Saudade sim do meu fusca “Branco Lótus”, o meu
primeiro carrinho nascido prematuro em
fins de 1969, com certificado 2221 de l970.
Ele era branco, amigo, companheiro para todas as
horas e nunca se fez de rogado!
Meu fusquinha era frugal, parcimonioso, econômico,
prestativo, me levava às compras, feiras livres e aos shoppings, ao trabalho e à faculdade, à igreja,
aos bailes e boemias.Ele ainda me levava
a São Paulo pela Anchieta até quando chovia torrencialmente caindo barreiras
pela estrada!
Após visitas a parentes e a amigos, namorar e por
vezes a paquerar, ainda a fazer filmes a título de “bico” para comerciais
televisivos, ainda tinha disposição de levar a mim, minha irmã e suas filhas
pequerruchas, à Praça da República e de lá, acompanhando curiosas ao movimento
hippie, a Embu das Artes e, por vezes carregando de carona a um” bicho grilo”
expositor e à sua bagagem.
Voltávamos, ele e eu ao volante, sempre e à hora que
fosse, pela Estrada Velha bela e histórica, então aberta ao público. Estrada
quase sem trânsito e também sem pedágio, o que era muito convidativo!
Meu “Branco Lótus” me levava às colunas sociais como
à fila do INPS, madrugada a dentro, abrigando a minha mãe que dormitava
enquanto eu guardava lugar na longa fila da rua Santo Antonio na Bela Vista que
outros chamam de Bexiga, em São Paulo.
O meu muito amado “Fusquinha” carregada ainda meus
sonhos, projetos, ilusões, aventuras, as crianças da família e de amigas e
também às caronas ocasionais e às sistemáticas nas idas e vindas do trabalho e
faculdade.
Mais parecia um cabritinho não podendo ver morro que
subia! Subia a Serra do Mar, o Morro da Nova Cintra que subíamos pelo Marapé e
descíamos pelo lado da Linha Um que conduz a São Vicente, uma descida íngreme e
tortuosa. Subia também o Morro de Santa Terezinha, então aberto a visitações, à
Ilha Porchat, ao do Maluf e a todos os outros do Guarujá, principalmente aos
que acompanhavam à estrada ao lado do canal para Bertioga.
Quantas alegrias, confidências, choros copiosos e
sentidos que só poderia verter na intimidade amiga e companheira desse velho e
querido amigo de todas as horas, sempre solidário e discreto!
Como me doeu na alma quando uma manhã ele apareceu
doente, faltava-lhe um pedaço do para-choque
dianteiro, mais precisamente do lado direito! Meu irmão caçula, então um rapaz,
o surrupiara pela madrugada, junto a um amigo também amigo das badernas e sempre
acompanhado de um violão que lhes garantia sucesso nas empreitadas e assim
ambos desencaminharam o meu “Branco Lótus” pela madrugada adentro, deixando o
pobrezinho avariado,
Que saudade do meu amigo!
Fusca “Branco Lótus” l970!
Vivemos em plena simbiose e harmonia!
Momentos inesquecíveis!
Mariza C.C. Cezar
4 comentários:
Cara amiga. Mais uma vez, como exímia cronista, contou uma história de seu Fusca, fazendo-nos recordar o quanto esse pequeno e valente carro marcou as nossas vidas. Que eu me lembre, todos os meus amigos tinham lá o seu fusquinha para passear por São Paulo. Eu também tive o meu, que trouxe alegria e horas incontáveis de lazer. Sua crônica reavivou a minha memória e, creio, também a memória de muito de nós que tivemos essa adorável máquina que hoje nos transportou no tempo, através de sua mais uma deliciosa crônica. Parabéns e um abraço.
A maioria de nós, eternos jovens dos anos sessenta, teve o seu fusca e guarda as suas lembranças, muito boas lembranças.
Meu fusca foi um bom companheiro;
Meu fusca foi um bom companheiro;
Meu fusca foi um bom companheiro;
Ninguém pode negar;
Ninguém pode negar...
Boa noite Mariza! Carlos me indicou seu blog. Li sobre seu fusquinha. Também tive um. Azul. Ele me levava de Tabatinga a Jaú, cidade onde nasci. Tempos bons aqueles! Não tenho foto dele, mas tenho os bons momentos que estive com ele guardados em meu coração. Grande abraço!
Grata mesmo tardiamente. Então você é da terra do meu pai e de meus avós paternos! Velha e tradicional cidade paulista que foi um marco na história cafeeira do nosso estado. Prazer
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