MEUS
SONHOS ADOLESCENTES...
Não
sei dizer bem se os sonhos eram adolescentes ou apenas de adolescente, mas que
eram apropriadamente sonhos românticos e alguns de grandeza, lá isso eram!
Em
criança pequena resolvi que seria princesa e depois rainha, com crueza minha
tia-mãe me desiludiu e confundiu, pois disse taxativamente que eu nunca o
seria, pois para tanto precisaria ter nascido de sangue azul! Como se desde
sempre ouvira referência à nobreza e aos brasões da família que viera como
colonizadores e que seriam primos do rei de Espanha e do Bispo de Plascência na
província de Burgos, Espanha e ainda que em aqui chegando, o primeiro Camargo
se casara com Joana Ramalho filha de Bartira e neta do Cacique Tibiriçá? Então
realeza do lado europeu e do nativo!
Enfim
desisti do trono e resolvi que seria mulher de Embaixador e sonhava com as
recepções e os safáris na África.
Pobre
menina que nem sonhar certo sonhava, pois nascera numa época em que mulheres
eram meras figuras decorativas ou de sustentação, sempre no segundo plano ou
por detrás das cortinas!
Na
adolescência, toda manhã, ao abrir a janela do quarto saudava o dia e ficava um
bom tempo a namorar o morro de Sta. Terezinha e nele, a igrejinha encarapitada bem no topo, sonhando que lá me
casaria em cerimônia romântica e intima o suficiente para caber na igrejinha
pequena e bucólica.
Sonhava
também que teria uma “hacienda” em plena selva amazônica e que lá chegaria em
helicóptero particular.
Confesso
que esse sonho que não alimento mais ainda me é caro! Gostaria de tê-lo
realizado!
Outro
sonho que logo se desvaneceu, desencantou, foi o presente de aniversário dos 15
anos de idade! Que desilusão o anel de brilhante incrustado em aro de platina
quando sonhara com outro, de ouro e sinete para ser usado no dedo mindinho com
as armas e brasões de família! Sonhara em lacrar as cartas cor de rosa e
perfumadas com o timbre do anel, como se via nos filmes de capa e espada!
Sonhos
romanescos! Na verdade, pouco depois passei a sonhar com um lar, marido, filhos
e fumegante cozinha!
Depois
passei a sonhar e suspirar pelos namorados, pois um viria a ser o príncipe encantado
que tornaria realidade o sonho infantil de ser rainha, só que agora do lar e da
fumegante cozinha!
Enquanto
sonhava, estudava e depois o trabalho, passando a seguir, a fazer os dois,
estudar e trabalhar sonhando realizar o sonho de fazer Direito do qual fora
desviada pela imperiosa intervenção paterna.
Estudava,
trabalhava e terminada a Escola Normal, estava apta a lecionar. Prestei
vestibular e fui aprovada.
Terminado
o curso de Direito em que sonhei me dedicar ao Ministério Público e ser
Promotora de Justiça, pois essa é a missão dos Promotores Públicos, agir em defesa
da sociedade!
Em
todo o Estado apenas duas exceções femininas no mundo dos homens e Justiça
Pública e na Magistratura, nem sonhar se poderia, pois não era admitido nem em
pensamento mulher nas fileiras do Judiciário Paulista!
Sonhos
abortados, pois eram sonhos adolescentes que careciam de realidade!
Concursos
públicos? Dois anos ou mais sem que fossem abertos no nosso Estado e, nos anos
70 era difícil deixar a família e se aventurar em carreiras fora do Estado.
Enquanto
isso sonhava ainda com o amor, com o lar, filhos e com o namorado.
Casei
com advogado e o sonho de seguir o Ministério Público perdeu para o casamento,
não poderia correr comarcas e deixar o marido e o lar!
Advogar?
Seria em termos profissional o sonho reserva que também se diluiu na
intransigência do marido.
Os
sonhos foram morrendo uns, outros fizeram “ploc” como etéreas bolhas de sabão!
Cozinha
fumegante eu conquistei e também o canudo contendo o diploma, de resto tudo se
desvaneceu.
Continuo
sonhando, agora em manter o imperdível
bom humor e eventualmente conseguir um tento ou outro, no decorrer da monotonia
do dia a dia e esse não é mais um sonho
adolescente!
Mariza C.C. Cezar
4 comentários:
Cara amiga: realmente os nossos sonhos de juventude eram difíceis de se realizar. Também tive meus sonhos juvenis que se esvaíram com o rápido passar dos anos. Mas estamos aqui hoje, vivos e realizados, não importando se não foram ou não desejos de uma juventude imatura -- devaneios que a realidade foi apagando com o imponderável passar dos anos. Tudo isto que eu tentei refletir, está melhor descrito em sua bela cronica.
Como sonhamos Amiga Mariza, e, voamos nas asas da inocência, despertamos pousados na faixa da realidade, depois de longo voo... Gosto muito dos seus escritos!
Minha cara amiga Mariza, como são evanescentes os sonhos, mas ainda assim, de vital importância para a vida e para a sobrevivência!
Desfaz-se um sonho? Sonhem-se outros, porque são o caminho da alegria.
Sonho é signo de vida e não pode ser abandonado, mesmo que já se pressinta o resultado.
NÃO PROÍBAM!
A esperança vai e vem...
A felicidade, se vem, vai...
Sonho, porque sou teimosa.
Ninguém pode
me proibir de sonhar.
Suely Ribella ©
(Sonhemos, Mariza, sonhemos!)
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