QUASE! POR MUITO E...POR POUCO!
Quando
se mudaram para Santos, a família até encontrar residência fixa,
hospedou-se em agradável e belo hotel
rodeado de jardins e bem defronte ao jardim da praia.
Esse
hotel tinha escadaria dupla de mármore branco, móveis de estilo, belas cortinas
e mágicos lustres de cristais pendentes do teto que iluminavam festivamente os
ambientes.
Fino
o trato e seletos os demais hospedes, alguns com filhos e ela, criança, logo
fez amizades sob os olhos vigilantes dos tios responsáveis e amorosos, com
cuidados às antigas.
Finalmente
foi-lhe e por imposição materna, feita a matrícula em colégio de ensino
oficial, vez que a tia e madrinha, que era professora, a alfabetizara aos três
anos de idade e vinha diária e sistemicamente ministrando-lhe aulas.
Entrou
para o ensino oficial aos oito anos de idade, em colégio de freiras
agostinianas, tido como excelente em termos curricular como também de
frequência, corpos docentes e discentes primorosos e de tradição.
Gorducha
já que era bem alimentada, com cuidados nutricionais minuciosos e às antigas,
mais o “leitinho” diário que era o Calciogenol Irradiado, foi criando volume
que junto às boas maneiras que lhe eram incutidas, mais os cuidados exagerados
que impediam movimentos destrambelhados e espontâneos, por etiqueta e também
visando evitar acidentes e machucados. Menina bem comportada, acompanhava aos
adultos a concertos e apresentações de declamadores.
Passava as férias com os pais e irmãos que
moravam no interior.
Naquele
ano os pais haviam se mudado para Presidente Prudente, uma bela e progressista
cidade da alta sorocabana e como haviam se mudado a pouco, pegaram provisoriamente
a primeira casa que aparecera, em bairro sem calçamento, casa boa, de alvenaria
e com belo terraço, boas acomodações, estilo moderno para a época, com jardim e
pomar, poço no fundo do quintal e uma “casinha”, esta de madeira e fora do
corpo da casa.
Nessa
casa a menina teve seu primeiro contato com a terra e seu canteiro particular e
que delicia achou descobrir mudas de belas flores pela vizinhança e plantá-las
na terra! Podia até se sujar!
Ver
brotar a plantinha dava imensa satisfação! Sentia-se produtiva, criativa,
poderosa e livre!
Quanta
alegria! Um mundo diferente lhe era descortinado e ela fazia parte dele!
Comprar
papel manteiga ou de seda com a mãe, e com varinhas de bambu faziam belas pipas
ou papagaios que à tarde, depois do banho, quando iam todos para a calçada
brincar e a mamãe que ia junto, ensinava e brincava correndo até que a pipa
levantasse voo, empinasse, cabeceasse e desse cambalhotas pelos ares. Até o pai
às vezes aderia à brincadeira!
Foi
numa dessas tardes que a menina gorducha e de roliças coxas, apertada que
estava, a correr entrou na “casinha” ali do quintal e desajeitada se aprumou
para fazer o imperioso xixi. Desastrada errou o foco ou a posição, escorregou
e... Salva pelas coxas gorduchas que ficaram entaladas no quadrado do chão,
impedindo-a de morrer afogada na fossa!
Até
antitetânica tomou!
Quase!
Por muito nas coxas e por pouco, muito pouco é que a menina se salvou com
alguma experiência e história para contar!
Mariza C.C. Cezar