Chuva que pinga um pingo depois do outro, que
chove de mansinho mais assustando aos desprevenidos e aos mal humorados. Chuva
rala que mais ameaça do que molha, que promete e não se decide, que insiste e
de improviso se recolhe, deixando no entanto, nuvens escuras a prometer
despejar o céu num repente, essa chuva que refresca e aborrece como também
encanta aos românticos e sonhadores! Chuva que carrega um cheirinho de terra
molhada nos trazendo lembranças atávicas, nos fazendo recordar o cheiro
ancestral da terra suculenta e nutridora! Essa mesma chuva de pequenos e
intermitentes pingos que se nos prende em casa, nos convida ao calor do
borralho ou das lareiras ou ainda das acolhedoras salas de estar ou de leituras
ou quem sabe às de costuras! Um fumegante café com bolinhos de chuva ou ,
dependendo do gosto ou requinte de outros, um chá de especiarias ou de ervas,
até o de estrada ou de capim cidrão, com bolo de fubá cremoso ou o tradicional com erva doce, sequilhos ou amanteigados a despertar o
apetite e aquecer o coração! Um som ambiente a combinar com
o crepitar do fogo e o pinga-pinga das gotas vindas do céu carregando lembranças de sonhos vividos ou meramente
sonhados e de cartas, olhares ou beijos trocados, compartilhados ou roubados!
Ai essa chuva que pinga me leva ao devaneio, me enche de lembranças vividas ou meramente
desejadas! Necessário voltar à terra, olhar pela janela, espiar o céu e descer
à terra e me lembrar que estou a me prolongar e ocupar, no face, o espaço e a
paciência de dileta amiga . Perdão doce Jouvana Whitaker , se você com sua arte me inspirou e me transportou a essa "viagem"!
Mariza C. C. Cezar