SAMIRA...
(Ato
I)
Noite
de lua cheia no calor do deserto de dunas e areias grossas, escaldantes.
Céu
estrelado cintilando como brilhantes sobre veludo escuro envolvia e alimentava
o ar de mistério e magia que imperava naquele acampamento de nômades do Saara.
Um
perfume intenso e agradável envolvia aquele recanto que irradiava força e magia
dos sons da noite, com o crepitar de uma fogueira e o som de um alaúde,
despertava controversos sentimentos de paz, romance e sensualidade.
Sensualidade
que encontraremos na tenda maior, a do senhor daquele acampamento e caravana,
aquela que era a maior e mais forte e respeitada a percorrer o deserto
desafiador e cheio de promessas.
No
interior da rica tenda, o som do alaude alimentava e embalava a dança
ritualística de linda morena de tez dourada pelo abrasador sol do deserto.
Cabelos
soltos e escuros caiam-lhe em largas ondas, acariciando-lhe os sedutores ombros
e acompanhavam aos sensuais movimentos do corpo totalmente entregue à
sinuosidade e requebros da dança ritualística.
Delicados
e selvagens seus volteios com a bela companheira que por ela se enroscava e
deslizava, abraçando-a enquanto juntas e sinuosamente sensuais despertavam e
invocavam forças atávicas e cósmicas.
Tal
ritual vez por outra se repetia com o fim de avivar e perpetuar a força e o
poder, a invencibilidade do amado senhor daquele grupo nômade, aquele belo
guerreiro que era detentor de toda a devoção e paixão da nossa bailarina que,
com sua cobra serpenteava envolvida pela noite e magia!
Esse
romântico romance e vida duraram o encantamento de muitas e muitas luas, até
que um dia nossa bela dançarina, estarrecida encontrou sua companheira de
bailado e magia, morta!
Acesso
de fúria e ciúmes do belo e moreno senhor!
Morta
a serpente, em transe de estupefação e dor, nossa dançarina partiu com a
próxima caravana que por aquela passou.
Mais
adiante no tempo, vamos reencontrá-la bela como sempre, altiva e graciosa,
tendo ao rosto diáfano véu que lhe desnudava apenas, lindos e expressivos olhos
que faiscando, deixavam antever promessas veladas de mistério.
Sobre
uma mesa, no Cairo, dançava linda e sinuosa como sempre, mas nas mãos o que
agora tinha era um pandeiro cheio de fitas coloridas pendentes e arrematadas
com guizos que acompanhavam seus movimentos e requebros cadenciando-os.
Estava
só! Não tinha mais sua companheira de bailado e magia e tampouco sua plateia
preferida, na verdade a única que a motivava, o seu amor, o guerreiro que a movia
e norteava.
Na
verdade nossa bailarina dançava porque amava à vida e a essa é que festejava
com seus volteios, porque a dor que morava velada no fundo de seus olhos, não
permitia que amasse além da vida.
Esse
episódio deve ter sido breve porque bem mais tarde iremos reencontrá-la, mas
isso será outra estória (ou seria história?) que ficará para outra vez, pois
tudo na vida tem seu tempo e enredo.
Mariza C.C. Cezar