segunda-feira, 30 de julho de 2018

SAMIRA... (Ato I)

                                                                 
                                                                     
                SAMIRA...
                (Ato I)
                                                       


                Noite de lua cheia no calor do deserto de dunas e areias grossas, escaldantes.
                Céu estrelado cintilando como brilhantes sobre veludo escuro envolvia e alimentava o ar de mistério e magia que imperava naquele acampamento de nômades do Saara.
                Um perfume intenso e agradável envolvia aquele recanto que irradiava força e magia dos sons da noite, com o crepitar de uma fogueira e o som de um alaúde, despertava controversos sentimentos de paz, romance e sensualidade.
                Sensualidade que encontraremos na tenda maior, a do senhor daquele acampamento e caravana, aquela que era a maior e mais forte e respeitada a percorrer o deserto desafiador e cheio de promessas.
                No interior da rica tenda, o som do alaude alimentava e embalava a dança ritualística de linda morena de tez dourada pelo abrasador sol do deserto.
                Cabelos soltos e escuros caiam-lhe em largas ondas, acariciando-lhe os sedutores ombros e acompanhavam aos sensuais movimentos do corpo totalmente entregue à sinuosidade e requebros da dança ritualística.
                Delicados e selvagens seus volteios com a bela companheira que por ela se enroscava e deslizava, abraçando-a enquanto juntas e sinuosamente sensuais despertavam e invocavam forças atávicas e cósmicas.
                Tal ritual vez por outra se repetia com o fim de avivar e perpetuar a força e o poder, a invencibilidade do amado senhor daquele grupo nômade, aquele belo guerreiro que era detentor de toda a devoção e paixão da nossa bailarina que, com sua cobra serpenteava envolvida pela noite e magia!
                Esse romântico romance e vida duraram o encantamento de muitas e muitas luas, até que um dia nossa bela dançarina, estarrecida encontrou sua companheira de bailado e magia, morta!
                Acesso de fúria e ciúmes do belo e moreno senhor!
                Morta a serpente, em transe de estupefação e dor, nossa dançarina partiu com a próxima caravana que por aquela passou.
                Mais adiante no tempo, vamos reencontrá-la bela como sempre, altiva e graciosa, tendo ao rosto diáfano véu que lhe desnudava apenas, lindos e expressivos olhos que faiscando, deixavam antever promessas veladas de mistério.
                Sobre uma mesa, no Cairo, dançava linda e sinuosa como sempre, mas nas mãos o que agora tinha era um pandeiro cheio de fitas coloridas pendentes e arrematadas com guizos que acompanhavam seus movimentos e requebros cadenciando-os.
                Estava só! Não tinha mais sua companheira de bailado e magia e tampouco sua plateia preferida, na verdade a única que a motivava, o seu amor, o guerreiro que a movia e norteava.
                Na verdade nossa bailarina dançava porque amava à vida e a essa é que festejava com seus volteios, porque a dor que morava velada no fundo de seus olhos, não permitia que amasse além da vida.
                Esse episódio deve ter sido breve porque bem mais tarde iremos reencontrá-la, mas isso será outra estória (ou seria história?) que ficará para outra vez, pois tudo na vida tem seu tempo e enredo.

                                                         Mariza C.C. Cezar