DESFILE
Hoje
logo pela manhãzinha, estive na Sta. Casa de Misericórdia, o hospital mais
antigo de Santos,SP. para uma consulta rápida e pós cirúrgica, por ter operado
ontem a segunda vista de catarata.
Enquanto
aguardava o médico, no segundo andar, seção de oftalmologia, observava aquele
longo e frio corredor que tanto me angustia, pois mesmo reconhecendo os
recursos humanos e técnicos desse hospital histórico e tradicional, tenho
péssimas recordações de outras vezes em que lá estive como acompanhante dos
meus caros e saudosos parentes e da
despedida de todos eles.
O
momento era outro, bem positivo depois dessa cirurgia rápida e indolor, quase
mágica pelas mãos de jovem, belo, e eficiente médico, vislumbrei um novo e
irradiante mundo resplandecente de luz e formas, antes baço e opaco!
Mas
voltando ao longo e frio corredor do segundo andar em que aguardava pela
consulta e observava eventuais passantes, fui surpreendida pelo desfilar de
curiosas figuras, todas masculinas e que como saída de baús ou velhos álbuns fotográficos,
homens magros sempre, altos ou baixos, com ou sem bengalas, em passadas
compassadas, rítmicas e miúdas, esses senhores empertigados e eretos, seguiam
sempre parecendo ter destino certo e contínuo.
Tão
eretos, tão esguios e empinados, mais parecendo engomados, muito lembraram meu
avô materno, o velho Dr. Jovelino que rindo sempre, nos dizia que os da família
Camargo sempre se curvam para trás, nunca para frente!
Com
a chegada dos outros pacientes e depois a do cirurgião, passamos ás consultas e
fomos dispensados cheios de alegria e esperança, esquecendo momentaneamente o
curioso desfile.
Mais
tarde, já em casa e depois de uma cesta para relaxar e repor as energias me
lembrei do desfile e entendi a sensação que ficara, mais pergunta que sensação,
pois na realidade não sabia se as figuras que de tempos em tempos do nada
surgiam e seguiam como se tivessem destino certo, em rotatividade compassada e
deixando a impressão de ser cíclica, eram de verdade deste mundo ou de dimensões
paralelas.
Mariza C.C. Cezar